Ao vivo

Cordel do Fogo Encantado – SESC Belenzinho (04.01.20)

Não é só um show, ainda que assim o seja em sua essência.

Novamente com ingressos esgotados, o Cordel do Fogo Encantado retornou a São Paulo nesse primeiro fim de semana do ano, entre os dias 3 e 4,  para apresentar faixas de Viagem ao Coração do Sol, um disco tão marcante quanto seu retorno ao mundo da música, para um empolgado SESC Belenzinho.

Um dos grupos mais impressionantes da música brasileira, o Cordel do Fogo Encantado nunca foi só música. Exalando energia, parece ter se tornado um organismo viva que emana da cultura de um país cheio de diversidade e canaliza tudo isso na presença do quinteto formado por Lirinha (voz e pandeiro), Clayton Barros (violão e voz), Emerson Calado (percussão e voz), Nego Henrique (percussão e voz) e Rafa Almeida (percussão e voz).

Como foi dito, não é só um show. É teatro, a poesia oral e escrita dos cantadores e ritmos afro-indígenas. É uma celebração que vista desde seu início impressiona até mesmo a quem não teve ao longo dos anos contato com a música do grupo, impossível de ser categorizada. É algo que vai além do que está no disco, quebrando a lógica de que é necessário ouvir a música antes de ver ao vivo.

E quem já é fã do Cordel sabe, cada música carrega uma dose extra de poesia, de performance, de uma percussão capaz de desorientar o menos avisado. São faixas que soam como longas histórias, tal qual Pra Cima Deles Passarinho ou Semente Brilhante, No Compasso da Mãe Natureza ou o Amor, A Pureza e a Verdade ou Tempestade (ou A Dança dos Trovões).

Tendo Lirinha na linha de frente dos vocais do grupo, o Cordel ignora a formação natural de uma “banda de rock”, fazendo com que todas as peças de sua engrenagem ganhem o mesmo protagosnimo. É assim que a música se sobressai, como em Chover (Ou invocação para um dia líquido), carregada de uma poesia tão forte onde é quase possível sentir a emoção do sertanejo ao ver a chuva molhar seu pasto.

Amparado por uma estrutura multimídia, o Cordel desfila seu repertório por pouco mais de 1h30 sem derrapar na entrega ou na execução de cada faixa. São músicas que funcionam como atos de uma grande peça, consolidada na mais plena sintonia com o público.

Mais do que um grupo musical, o Cordel é uma manifestação artística no mais completo sentido da palavra. Depois de retornar em 2019 com um novo álbum, se torna impossível viver novamente sem ele, dada a intensidade de suas apresentações. Ao vivo, e como já é tradição em SP, a casa cheia formada por um público eufórico são o puro reflexo de como a cultura rompe barreiras e pode mudar vidas.

Que siga em frente o Cordel do Fogo Encantado!

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.