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Cordillera | Abrindo passagem

Com uma música tão sólida quanto uma rocha e respeitando a transição do rock progressivo clássico para o hoje tão aclamado prog metal, o grupo paulista Cordillera finca sua bandeira na cena respeitando gregos e troianos ao mostrar que aprendeu como poucos a evitar extremos em seu novo single, Black Sea.

Solos velozes, técnica apurada e faixas complexas. Soa inevitável, mas quem pensa em prog metal nos idos de 2019 certamente associa suas memórias aos americanos do Dream Theater. Não é para menos, formado por músicos que desafiam a lei da gravidade com seus instrumentos, o quinteto liderado por John Petrucci estabeleceu uma espécie de status quo inatingível para a maioria dos humanos. Do outro lado existem aqueles que se recusam a aceitar o peso do heavy metal e aceitar o gênero como uma evolução de bandas como Pink Floyd e King Crimson. É justamente nesse meio que Ruptura, álbum de estreia do Cordillera, entra.

Formado por Victor Oliveira (vocal), Raphael Moretti (guitarra), Pedro Ghoneim (baixo), Tarcísio Barsalini (guitarra) e Matheus Vazquez (bateria), músicos que se conheceram no meio acadêmico e donos de diferentes influências, o Cordillera é um alento para órfãos da década de 90, momento em que o rock progressivo parecia viver seu momento de maior transição estética. Técnico e repleto boas melodias, o disco de estreia do grupo paulista se insere com maestria em uma cena carente de artistas como Steven Wilson, hoje magnânimo em seu pedestal.

Apostando em uma atmosfera densa e distante da fritação tão tradicional nas bandas de prog metal, o Cordillera desenvolveu sua música com a serenidade de músicos que, embora estejam fazendo seu debut na música, apresentam uma serenidade digna de quem está há anos na estrada. E mais que isso, sabe o buraco que a história abriu entre as bandas clássicas de rock progressivo e o prog metal pós-2000.

Com cara inicial de devaneio, a primeira faixa de Rupture desafia (e impressiona) o ouvinte à medida que apresenta as principais cartas do disco. Noumenon, palavra que tem origem na filosofia de Platão e diz respeito a uma explosão de sentidos, define bem a estética da banda, repleta de quebras e melodias que se confundem e ganham forma abruptamente. A partir disso basta mergulhar no campo das ideias e seguir em frente com bons momentos como Uneasiness e On the Top of the Wall, que completam a primeira fase do disco e raramente saem de um padrão que possa ser plenamente identificado, exaltando a maturidade da banda em compor faixas longas, mas que não se perdem pelo caminho.

Salvo raros momentos, como em Dialogue ou Misplaced, onde a técnica da guitarra de Raphael Moretti rouba a cena, o disco se desenrola sem protagonismos, apostando em uma unidade difícil de ser aplicada em um gênero que parece clamar por um destaque individual. E isso para fãs de grupos pós-Dream Theater como Evergrey e Pain of Salvation soa como um prato cheio.

A New Begnning, faixa que coroa o bom Ruptura e encerra o primeiro lançamento da banda paulista, poderia muito bem ter sido extraída do underground dos anos 80 com um pouco mais de peso, mas isso rotularia uma banda que escapa pela tangente por todo seu lançamento de ser adepto de uma vertente tão explícita. Com uma dose de experimentalismo e ausente da necessidade de provar a todo momento dominar seu instrumento, o Cordillera tem tudo para agradar quem busca algo cru, ausente de teclados e que pareça com tudo ao mesmo tempo em que parece não ser igual a ninguém.

E ainda que não tenha a pretensão de reinventar a roda em seu disco de estreia, o quarteto certamente mostra que é possível construí-la com tudo o que já existe, mas sem emular o que já foi feito, a pova disso é a ótima Black Sea, primeiro single de um segundo capítulo tão aguardado para os fãs de rock progressivo.

E para quem deseja conferir a banda ao vivo e mora no RJ, a agenda conta com shows nesse fim de semana:

Dia 9: https://www.facebook.com/events/2290386877877235/

Dia 10: https://www.facebook.com/events/385793905483075/

Dia 12: https://www.facebook.com/events/391301381458160/

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.