Entrevista

Entrevista ALBERT CUMMINGS

Existem artistas que podem ser considerados “abençoados” pelos deuses da música. O americano Albert Cummings, que vem ao Brasil como atração do sempre inovador Samsung Blues Festival, é um deles. Dono de um talento raro e um amor indescritível pelo blues, fez carreira solo e teve a oportunidade de acompanhar lendas como B.B. King, Johnny Winter e Buddy Guy.

Artista que se apaixonou pelo bluegrass e começou sua história na música tocando um banjo, já que a guitarra de seu pai era muito grande para seus braços, Cummings logo se apaixonou pela guitarra elétrica e a partir de então começou a transmitir para o instrumento sua paixão por nomes como Stevie Ray Vaughan, um de seus maiores ídolos.

Depois de lançar álbuns que lhe renderam o interesse de grandes lendas do blues, Albert Cummings se tornou um dos grandes nomes do gênero e tem sete álbuns lançados, o último deles Someone Like You, lançado em 2015 e que deve emprestar várias faixas para sua primeira apresentação no país.

O Passagem de Som conversou com Albert Cummings, que será responsável pelo encerramento do festival no próximo dia 3 de junho. Para mais informações sobre o Samsung Blues Festival acesse https://www.bluesfest.com.br.

O show no Samsung Blues Festival
Albert Cummings: Estou muito empolgado com o Samsung Blues Festival e me sinto gratificado por ter a oportunidade de se apresentar em um país lindo como o Brasil. Estou feliz por fazer parte disso. Não tenho nenhuma outra expectativa que não seja dar o melhor de mim e conectar as pessoas verdadeiramente através da minha música.

Gratidão pelo blues
Albert Cummings: Sou muito agradecido por todas as oportunidades que tive no mundo da música. Tive a chance de encontrar e tocar com alguns dos meus maiores ídolos, dividir o palco com eles! Foram experiências incríveis porque fiz isso me divertindo e fazendo o que mais amo na vida.

O blues foi o primeiro tipo de música que me pegou pelo colarinho e me fez prestar atenção nele. Acredito que seja a música mais verdadeira que existe! Se o Blues é tocado com paixão e honestidade, é impossível não prestar atenção.

Sempre fico muito empolgado quando vejo jovens tendo contato e se divertindo com o blues de raiz. É quase como um segredo obscuro que eles procuram até descobrir, já que as rádios modernas não promovem esse encontro com eles. Dessa forma essa descoberta é algo que vai estar sempre presenta na vida de uma pessoa. Espero que a cada dia mais e mais jovens possam descobrir esse gênero maravilhoso.

Um futuro sem ícones
Albert Cummings: Esta é uma grande questão. Eu sinto que o Blues sempre vai existir porque essa é sua natureza. Também acredito que ele vai crescer em popularidade, pois é a única música real.

Blues para mim é sobre a expressão dos sentimentos. Se tocado de forma honesta as pessoas se relacionam com ele. A música popular hoje está esvaindo tão rápida em ensaiadas combinações de sons que se transformou em algo sem emoção. Não há nenhum tema ou mensagem disponível mais. O blues fornece uma sensação de realismo que não está disponível no mercado de música de hoje.

Eu não tenho certeza que será tão popular como foi quando ele chegou ao topo pela primeira vez, mas eu acredito que, enquanto há pessoas dispostas a fechar os olhos e se perder na música, o blues viverá para sempre.

Tecnologia e blues
Albert Cummings: Acredito essa ideia de que as modernas tecnologias poderiam ajudar na evolução da música não é real. Tudo aquilo de ruim que um artista ou banda fazia em estúdio era também uma experiência que poderia ensiná-lo a aprender a não cometê-lo mais. Hoje se você não consegue cantar, alguém vai acertar sua voz com algum efeito; se você não acerta um solo, alguém vai corrigir esse solo para você. Eu acho que os velhos mestres do blues não gostariam e nem precisariam de nada dessas modernas tecnologias. Eles tocavam simplesmente com paixão e o coração.
Momento inesquecível
Albert Cummings: No terceiro show que toquei com BB King eu fui chamado por um de seus guarda-costas. Ele disse “Sr. King quer ver você”. Eu pensei que estivesse com um problema… sentei sozinho com ele no quarto por um tempo que parecia ser uma eternidade. Ele disse que adorava ver como eu me divertia tocando e como isso criava uma ligação com o público. Eu gostaria de lembrar tudo o que ele disse porque eu realmente apaguei. Eu me sentia sendo abençoado pelo mestre  e não conseguia acreditar no que ouviam os meus ouvidos. Cada noite que toquei com BB King eu sentava e assistia ele ensinar algo que eu poderia aprender e guardar para sempre.

Eu tento aprender com todos com quem eu toco. Às vezes eu aprendo o que não fazer, bem como o que fazer. Toda experiência é um aprendizado.

O contato com o blues brasileiro
Albert Cummings: Eu tenho que admitir que esse é um defeito meu. Estou realmente ansioso para ter contato com a música e músicos locais no período em que estiver no Brasil. Me divirto com todos os tipos de música e absorvo de qualquer estilo ideias que estejam disponíveis onde estou excursionando. Não vejo a hora!

O fim de uma era com BB King, Johnny Winter e James Cotton
Albert Cummings: É claro que é triste, mas infelizmente esse é um ciclo da vida. A coisa boa é que eles nunca se irão de verdade e poderemos ouvir tudo o que fizeram enquanto estiveram conosco. É claro que não é a mesma coisa, não os temos aqui, mas temos algo para lembrarmos deles.

É triste para mim porque esses artistas fazem parte de uma velha escola onde tocava-se simplesmente por paixão. Hoje o mundo não é mais dessa forma, mas ainda é possível encontrar artistas assim.

A música como instrumento social em períodos difíceis
Albert Cummings: Eu tenho muito claro comigo que músicos são sempre músicos. Eu não tenho respeito por artistas que tentam usar suas posições de influência para transmitirem seus ideais.

Nosso trabalho como artistas deve ser dar às pessoas algo que eles podem usar para esquecer tudo o que está acontecendo. Cada vez que estou no palco o meu objetivo é dar às pessoas algo que eles não podem comprar em uma loja ou em qualquer outro lugar.

Somos artistas e é isso que devemos fazer. O mundo sempre terá o bem e o mal. Sem um você não poderia apreciar o outro.
                
Futuro
Albert Cummings: Meus planos são simples. Eu faço música porque amo fazer música. Eu apenas quero continuar fazendo isso com amor. E torço para que as pessoas possam me ver e que eu possa vê-las de volta. É uma filosofia linda e básica, tão simples quanto vejo a vida.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.