Atitude. Assim se resume a história do Deb and the Mentals, grupo que lançou em 2017 seu primeiro álbum, Mess, se credenciando a uma das bandas mais promissoras da cena alternativa. Bote em um liquidificador a atitude punk do Blondie, a energia do B-52’s, grite e pule. Eis a concepção de uma banda que conseguiu construir uma música de atitude e acessível, levando o grupo a se tornar um grupo tão emergente.
Um passo por vez, o Deb and the Mentals se alimenta de pequenas conquistas para dar seus passos. É assim, cativando e realizando bons shows que o grupo foi escolhido para fazer parte daquele que é um dos shows mais aguardados em 2018, com a lendária banda americana L7, além do não menos notável Soul Asylum e do Pin Ups, outra referência da cena alternativa. Uma noite pra ninguém botar defeito.
É diante desse cenário que o Passagem de Som conversou com Deb sobre toda expectativa da banda sobre o evento da Powerline, nesse domingo em SP, o atual momento do grupo, política, tecnologia e muito mais.
A história do De and the Mentals
Deb Babilônia:
Nós que estamos dentro da situação demoramos a nos tocar que estávamos,
de certa forma, crescendo como banda. Ficamos entusiasmados com a boa
receptividade que o álbum Mess teve e tudo que conquistamos com o primeiro EP. Foi tudo muito natural e calmo, sem pensar muito no retorno.
Estamos com algumas mudanças internas atualmente com a saída do nosso ex-guitarrista Guilherme e com a entrada do novo guitarrista, o Ricardo Dom. O convite para abrirmos para o L7 foi especial por ser uma banda que faz parte do nosso repertório de inspirações e com certeza será um marco na nossa “nova” trajetória com um novo integrante.
A importância de movimentos como o Riot Grrrl e o new wave na música da banda
Deb Babilônia:
Eu e os meninos escutamos muitas bandas de diferentes estilos musicais.
Minhas referências de mulheres no vocal transitam mesmo pelo rock new
wave, pós-punk, pop dos anos 90, grunge, punk, art rock, indie, pop
atual… Então imagino que coloco tudo que absorvo em uma caixinha,
balanço, misturo e sai o que sai. Depois os meninos acrescentam outras
ideias.
Fico com o violão em casa tentando algo, mas sem pensar em um estilo a ser seguido. O que vier, tá valendo!
A presença feminina na música hoje em relação aos anos 90
Deb Babilônia:
Eu não consigo te dizer se chega a ser mais expressivo do que a virada
dos anos 90. Lembro que teve um boom bem grande de mulheres no rock e no
pop… Depois ficou um pouco silencioso e com a ajuda da internet e do
mundo da música e arte digital tivemos acesso a uma boa lista de
talentos, que às vezes não teríamos sem internet. A tecnologia ajudou no
acesso à informação e no poder que te dá de compartilhar o seu trabalho
de forma fácil.
Todos os dias fico sabendo de artistas novas. Continuamos sendo encorajadas e encorajando.
A tecnologia é o De and the Mentals
Deb Babilônia:
A tecnologia em nossas vidas nos dá inúmeras opções de divulgar nossas
músicas, clipes e shows. Inclusive é assim que divulgamos tudo. Não acho
que seja complicado, para nós é bem tranquilo.
Na minha opinião e sei que na dos meninos também, o grande diferencial se resume a: ser de verdade.
A nova mídia musical
Deb Babilônia:
O objeto de desejo para mim na adolescência era assistir meu clipe na
MTV. Isso não aconteceu porque ela fechou as portas antes disso se
tornar realidade. Não sei você, mas eu não considero a nova MTV como
canal musical atualmente.
Para mim, particularmente, não sinto que é algo que quero muito alcançar hoje, o de “aparecer na TV”. O intuito é sempre divulgar e alcançar o máximo de pessoas possíveis, claro. Mas o meio que vejo disso acontecer hoje em dia é tocando em grandes festivais. O que acho mais legal por ter essa troca público e banda.
O lado “ruim” da mídia atual é o excesso de informação que acaba, muitas vezes, fazendo com que as coisas passem batidas. E toda essa coisa de pagar postagem, seguidores, likes, hashtags… fazendo com que as pessoas surtem. Vejo muitos artistas que se desesperam e pagam para parecer que são isso e aquilo.
A popularidade do rock e a ascensão do hip hop e da música eletrônica
Deb Babilônia:
Em algum momento o rock se tornou fechado e separatista. Não sei ao
certo o que aconteceu, já que nosso universo pregava a liberdade e “seja
quem você quiser”. Fomos nos fechando cada vez mais em nós mesmos e
assim perdemos espaço. Já o hip hop, e acho que o eletrônico também,
veio com “são todos bem-vindos, vamos todos juntos”.
Acredito que é a falta de olharmos para o lado, de abraçarmos outros estilos e, principalmente, entendermos o sentido de ser um artista e o intuito de estarmos ali. Por isso digo que a verdade é importante.
O significado de pop hoje
Deb Babilônia:
Eu concordo que um determinado momento a palavra pop virou algo brega.
Muitas vezes me falam “a música de vocês tem uma pegada pop, mas não
quero dizer que é ruim”. Eu acho excelente ter uma veia pop, não vejo
lado negativo. Eu escuto bastante e acho genial. Para mim Bowie tem
músicas pops, Iggy Pop e Nirvana, isso pra mim remete a músicas que
tocaram um grande número de pessoas. Por que isso seria negativo, certo?
Popular para mim é quando alguém me para e diz que se identificou com a música do Deb and The Mentals. Ficamos muito felizes!
O conservadorismo e a censura invisível prejudicando a música como um todo
Deb Babilônia:
Essa onda toda pode prejudicar com essa censura e tomara que isso não
aconteça. Por outro lado existe a chance de surgirem músicas que venham
do âmago e não apenas com a ideia de serem “uma música legal”.
O rock torto, a as guitarras sujas e a atitude ainda assustam?
Deb Babilônia: Eu acredito que sim, o sujo ainda assusta. E quando digo assustar é no sentido de impactar. Precisamos de mais!
L7 e o futuro
Deb Babilônia:
Estamos muito ansiosos por esse show. Tocar no mesmo palco que L7 e
Soul Asylum é surreal! Eu cantava L7 no meu quarto na adolescência
olhando para o espelho, nunca imaginei que um dia isso poderia
acontecer!
Eu conheci Soul Asylum através de uma serie de TV dos anos 90 chamada My So Called Life, é uma banda incrível!