Entrevista

Entrevista FINGERFINGERRR

Formado por Flavio Juliano (voz/baixo/guitarra) e Ricardo Cifas (bateria/voz/synth), o FingerFingerrr tem uma história tão incomum quanto a sua ousada formação. Apostando numa sonoridade que bebe de vertentes como o punk, pop, hardcore, electro e camadas e camadas de ondas psicodélicas. Seu álbum de estreia, VAI, foi produzido por Fernando Sanches (Marcelo Camelo, Mallu Magalhães e Hurtmold), mixado por Mario Caldato Jr (Beastie Boys, Björk, Beck e Planet Hemp) e masterizado por Robert Carranza (vencedor de quatro Grammy’s). 

Com muita ousadia e coragem, coleciona experiências impressionantes, com shows realizados no Festival Midem (Cannes, França), Northside Festival (Brooklyn, NY), junto com Dirty Projectors, sendo a única banda brasileira a participar. De volta ao Brasil, tocaram em festivais como o Casa Verde (Vitória, ES), DoSol (Natal, RN), Porão do Rock (Brasília, DF) e CRACCA (Balneário Camboriú), com CJ Ramone, dos Ramones. Cheio de cores e disposto a seguir firme nessa louca viagem, o FingerFingerrr lançou recentemente o videoclipe de Rollz Royce, gravado nos Estados Unidos.

E em meio a tudo isso a dupla encontrou tempo para conversar com o Passagem de Som, nessa entrevista que você confere abaixo!

Vai, o novo single do FingerFingerrr
Cifas: Ficamos mais maduros com toda a experiência da tour do primeiro disco. Acho que o nosso ideal criativo é sempre buscar caminhos novos e fugir do óbvio. Acho que a VAI representa isso: uma nova faceta nossa mas sem perder a essência que construímos. 

A experiência no exterior e a maturidade musical
Flavio: Antes do primeiro disco já tínhamos ido para vários lugares e pros EUA tocar algumas vezes. Mas vimos que MAR foi realmente um marco. Ele levou a gente para muitos lugares e sentimos as opiniões das pessoas na cara. Seja quem assiste ao show ou os produtores e outras bandas das cidades e países. Pensando nisso com calma, de tudo que rolou, dá pra dizer que tem uma consistência cultural muito forte em vários lugares. De pessoas querendo pensar, organizar e ouvir música. E queremos mais e mais esse contato e essas viagens. 

O videoclipe de Rollz Royce
Cifas: Foi muito legal poder produzir o clipe com John novamente. Ele é um baita artista, super criativo e motivado em fazer o melhor. O resultado é sempre melhor do que esperamos. A gente confia na musica, as mídias são veículos que impulsionam isso. Acho que a força tem que estar na música. 

O underground no exterior e o papel da mídia
Flavio: Vimos umas coisas bem legais por aí. Em muitas das experiências de shows nas turnês tivemos contato diretamente com os organizadores, que eram pessoas como nós, como nossos amigos. Basicamente, com a mentalidade de querer fazer acontecer e tentar proporcionar o melhor pra banda. Então fomos acolhidos por tanta gente legal, no Brasil, Europa, EUA, Canadá e Austrália, que se todos se conhecessem, seriam amigos. Têm a mesma atitude e DNA. Mas vixe, não quero me preocupar com quem curte assistir cover. 

Deve ser bastante gente, mas vou deixar eles em paz. Prefiro pensar nas pessoas que já naturalmente querem ouvir nova música, novos sons, e nos aprofundar com eles. E pra isso, eu sempre, sempre, sempre acho que falta mais respaldo e apoio das mídias, pra deixar a música e o artista mais interessante para o público. Acho que falta validar o artista para o público, explorar suas personalidades e opiniões, criticar mais; e basicamente criar mais interesse com boas matérias, fotos e um aprofundamento em quem é realmente o artista por trás do som que você já tá curtindo. O público já tem predisposição para tudo isso. A qualidade da música as bandas se viram… sempre vai ter coisa boa, ruim, inovadoras e cópias. Pode escolher. Mas a mídia, pra mim, falta chegar junto e aprofundar mais com o artista. 

O disco físico
Cifas: Ainda tem gente que gosta do CD, tem gente que gosta de vinil. Acho que independente da plataforma que você ouve o importante é ouvir musica seja em mp3, vinil ou fita. A qualidade tá na musica e não na qualidade do áudio. 

Identidade musical
Flavio: Tem tanta coisa que toca eu e o Cifas como músicos, que a gente teria que sentar por horas pra mostrar o que a música realmente significa para nós. Vai desde o som de um acorde numa música qualquer à uma obra de carreira inteira de um artista. Então acabamos pegando todos esses sentimentos do que a gente gosta e não gosta e transformamos em música. Por isso que MAR vai pra tudo quanto é lugar e por isso que ainda não sabemos para onde vão os próximos sons. Então o show reflete isso, embora algumas das músicas mais calmas tocamos só em determinados tipos de shows. 

O combate à cultura
Cifas: Vivemos um tempo de trevas mas existe todo um movimento para manter e aumentar a rede independente de musica autoral. É como disse o Planet Hemp “Os cães ladram mas a caravana não para”. Tá dentro do nosso DNA a superação e o enfrentamento, e esse é mais um capitulo.

O impacto de festivais gigantes no underground
Flavio: Festivais gigantes como Rock in Rio e Lollapalooza às vezes me lembram padarias. Aquelas com vários tipos de pães e doces disponíveis no balcão, atrás do vidro, pendurados, em mesas. E vários exemplares iguais de cada tipo diferente. Tá sempre cheio, tão sempre lá. Quem é que vai comprar tudo isso? Pra onde vão quando expirar a validade?  

Mas quanto mais festival tiver, melhor. Quero ver concorrência porque acho que assim rola englobar diferentes tipos de bandas e diferentes tipos de públicos. Porém, o principal problema pra mim nesses festivais é ter as bandas brasileiras tocando quase exclusivamente na abertura. Não quero favorzinho e ter banda às 16h pra fazer média, mas quero que arrisquem e apostem em shows que vão fazer o público pensar e agitar. E se um festival não o fizer, que o outro faça e que seja um sucesso… voltando à concorrência. 

A questão do idioma na banda
Flavio: Estamos tentando compor mais em português mesmo. Teve uma época nos shows que a gente tentava distribuir as música em português e inglês, pra não aglomerar tudo… mas hoje em dia naturalmente elas encaixam uma na outra e acho que as vezes o público nem faz a distinção. Eu cresci nos EUA, minha escola foi lá, fui alfabetizado em inglês, tudo isso. Então sempre vai fazer parte da gente, às vezes mais, às vezes menos. E é nessas horas que você vê como a música é seu próprio idioma. 

Futuro
Cifas: Muita coisa, estamos preparando um disco e já estamos pensando numa nova tour, com show novo e muitas novidades. Fiquem ligados.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.