Entrevista

Entrevista: KENNY WAYNE SHEPHERD

“Estou realmente muito ansioso para os shows. É minha primeira vez por aí e certamente vamos levar o nosso melhor até Porto Alegre e São Paulo”.

É assim, sem esconder a empolgação, que o guitarrista Kenny Wayne Shephard fará sua estreia no Brasil no próximo final de semana. Sem cerimônias e num clima de informalidade, o músico cedeu entrevista a Márcio Grings (Memorabilia) e Anderson Oliveira (Passagem de Som). O artista norte-americano será uma das principais atrações da edição 2019 do Samsung Best of Blues, que ainda tem como destaque o virtuoso guitarrista Zakk Wylde (Black Label Society e Ozzy Osbourne) e a dupla brasileira formada por Tatiana e Nina Pará.

O Samsung Blues Festival será realizado em eventos gratuitos nas duas capitais – Porto Alegre no sábado (26), no Anfiteatro Pôr do Sol, e São Paulo no domingo (27), na plateia externa do Auditório Ibirapuera. Na capital gaúcha, soma-se a abertura do grupo Stones Blues Band + Luciano Leães.

Certamente grande parte das pessoas que prestigiarem o evento estará por lá para ver Zakk Wylde, guitarrista que toca acompanhado de sua banda, o Black Label Society. No entanto, fica o aviso – caso você não saiba quem é Kenny Wayne Shepherd, prepare-se para se surpreender com um dos mais talentosos músicos ligados a nova safra do rock/blues. Ele gravou seu primeiro álbum com apenas 18 anos, e 24 anos depois dessa estreia, Shepherd acaba de lançar “The Traveler”, forte candidato a figurar na listagem dos melhores discos de 2019 e que mostra um guitarrista que soube, como poucos, preservar a essência do blues em um mundo repleto de urgência e tecnologia.

O blues em tempos de tecnologia
Kenny Wayne Shepherd: Nunca mudei a maneira da abordagem nas gravações de meus álbuns. Quando entramos em estúdio, tocamos ao vivo, com todos os músicos no mesmo ambiente. Além disso, ainda prefiro o registro analógico, na fita. Após esse processo inicial transferimos o material captado para o Pro Tools, no âmbito de facilitar possíveis edições – o que economiza muito tempo, mas, no geral, ainda utilizo o velho processo de gravação de décadas passadas. Há aspectos positivos e negativos nas mudanças que ocorreram, em especial para jovens artistas, já que hoje existem diversas maneiras de divulgar músicas e assim obter uma amplitude maior através das mídias sociais, possibilidades que não existiam quando comecei.

A internet certamente mudou a maneira como as pessoas podem acessar conteúdo musical e artistas.  No meu caso, posso me comunicar diretamente com meus fãs, uma ferramenta poderosa que não existia quando comecei. Inicialmente, hesitei em abraçar as mídias sociais, principalmente porque sou um cara muito discreto. No entanto, vejo vários benefícios desse esse contato mais próximo com os fãs. Eu acredito que os canais independentes de música construíram um novo caminho como influenciadores do público que consome música, principalmente quando estão ancorados em conteúdos mais aprofundados que a grande mídia.

A busca constante por evolução
Kenny Wayne Shepherd: Posso falar por mim mesmo, mas, como disse, realmente não mudei a maneira como abordo minha música. Acho que quando você ouve e assiste de perto um artista, falando de alguém que domina seu ofício, esse músico naturalmente se destaca, e desse modo o público quer ver mais e mais. É por isso que ainda fazemos discos – para que assim possamos cair na estrada e nos apresentarmos para os fãs.

A função da música em um mundo repleto de caos
Kenny Wayne Shepherd: Penso no meu som como algo independente do que está acontecendo politicamente em qualquer época. Prefiro me ausentar de referências políticas – vejo no meu ofício a possibilidade de criar uma arte inédita e assim divulgá-la para as pessoas. Meu desejo é que meus fãs possam desfrutar dos shows e definitivamente esqueçam de seus problemas. Pelo menos por um tempo, no intuito de apenas curtir a música. Quando consigo esse objetivo, minha consciência me diz que fiz algo certo. Também gosto de escrever e gravar músicas que continuem me inspirando para além do momento em que foram criadas, gosto do signo da atemporalidade.

A qualidade do pop no novo século
Kenny Wayne Shepherd: A música pop sempre girou em torno das tendências e do que está “rolando” no momento. Atualmente, tenho a impressão que há um desfoque em torno do talento do artista, pois muitos preferem apostar alto na imagem. Eu sempre me inspirei em música focada na arte, pois gosto de sentir que as canções naturalmente apenas falam por si.

A música sempre foi muito cíclica e, embora as tendências possam ir e vir, ainda ouço por aí boas canções inspiradas no antigo legado do rock e do blues. Existem artistas talentosos surgindo todos os dias, e fico feliz em perceber que ainda teremos uma nova geração com desejo de seguir a tradição do blues.

A experiência de contar com o lendário Chris Layton (Double Trouble) no line up
Kenny Wayne Shepherd: Chris Layton é um dos maiores bateristas vivos. Só posso me considerar um sujeito afortunado por compartilhar vários momentos importantes da minha vida com ele. Trabalho com Chris desde muito jovem – ele tocou bateria no meu primeiro disco. Chris faz turnês como meu sideman há muitos anos, e sempre é extremamente satisfatório se cercar de músicos talentosos. Entretanto, por motivos de ordem pessoal, infelizmente ele não virá ao Brasil conosco. No seu lugar quem toca nesse tour é Sam “The Freight Train” Bryant, velho conhecido que fez parte da minha banda nos anos 1990.

A turnê com Buddy Guy
Kenny Wayne Shepherd: É incrível. Tive muita sorte em conseguir me apresentar com muitos dos meus heróis. Conheço Buddy desde pequeno e gosto muito de viajar com ele.

A influência de Stephen Stills
Kenny Wayne Shepherd: Stephen definitivamente me incentivou a encarar meu protagonismo como cantor. Quando gravamos os álbuns como The Rides, dividimos funções, tanto nas guitarras quanto nos vocais, algo que pode ser percebido nos discos e também em nossas apresentações.

Um recado ao público brasileiro
Kenny Wayne Shepherd: Estou realmente muito ansioso para os shows no Brasil. É minha primeira vez e certamente vamos levar o nosso melhor até Porto Alegre e São Paulo! Quero conquistar novos fãs e quem sabe novamente retornar em breve!

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.