Entrevista

Entrevista MAGMA

Não se trata só de uma banda, mas de uma verdadeira instituição da música no século XX. Formado em 1969, o lendário grupo francês Magma está de malas prontas para uma apresentação em solo brasileiro. Com organização da Overload, o grupo liderado pelo baterista Christian Vander vem ao país para um show em São Paulo no próximo dia 26 de novembro, em São Paulo.

Conhecido pelos vocais cantados em Kobaïan (linguagem criada pelo próprio Vander), pelas performances ao vivo e pela sua sonoridade intensamente idiossincrática, com uma combinação de elementos de jazz, minimalismo e canção erudita do século XX, o Magma construiu um estilo único em razão de sua influência nas cenas musicais do Japão e Europa continental, mais tarde fundando vertente de rock progressivo conhecida como Zeuhl.

Com mais de duas dezenas de álbuns lançados, o último deles Šlaǧ Tanƶ, de 2015, o Magma pretende repassar sua história em uma apresentação que desde já se desenha como histórica para os fãs do gênero no país. E é baseado em toda essa expectativa que o Passagem de Som conversou com Christian sobre a primeira passagem de Magma pelo país. Um registro histórico de um show que se desenha histórico antes mesmo dos franceses subirem ao palco!

A turnê pelo Brasil
Christian Vander: É estranho, mas nós já sabíamos que tínhamos uma base de fãs no Brasil por causa das redes sociais, sabemos que eles esperaram por um show do Magma por um longo tempo… por isso posso garantir que estamos muito felizes de tocar no Brasil e esperamos que vocês também fiquem em nos ver. Faremos todo o possível para não desapontá-los.

A gravação do último álbum, Šlaǧ Tanƶ, e a possibilidade de ter tanta tecnologia à disposição
Christian Vander: Produzir um disco com tanta tecnologia disponível não torna o trabalho mais fácil, talvez um pouco menos estressante apenas. Falo isso porque com a tecnologia disponível hoje em dia você pode ter tantas faixas ou takes quanto quiser; tudo isso antes de você ter que fazer escolhas, o que na maioria das vezes sempre foi algo frustrante para o artista.

Você também pode decidir manter várias versões de uma tomada em um esquema multi track; antes, se você quisesse tentar outra tomada e não era tão bom quanto o anterior, você não poderia voltar para o anterior. Mas também é perigoso porque você pode trabalhar em uma gravação para sempre! Você não saberia quando parar.

O imediatismo da música e os álbuns conceituais
Christian Vander: Produzir um trabalho conceitual pode ser perigoso hoje por razões comerciais. As pessoas estão se acostumando a ter muita música gratuita disponível, ou quase gratuita… por isso se tornou muito complicado prensar um álbum duplo ou um LP, porque além de ter um custo para isso você não poderá pedir o preço certo. Essa conjuntura faz as gravadoras perderem dinheiro e parar de investir em quem tem um trabalho mais ousado. Essa realidade não é somente sobre música, vale a mesma situação para o cinema. As pessoas mudam muito rapidamente para a próxima coisa disponível.

A sensação de ver sua música chegar a um novo público
Christian Vander: Esse tipo de coisa acontece eventualmente e vocês podem ter certeza que ficamos muito felizes. Ver alguém novo acompanhando a música do Magma não é uma nova sensação para nós, sabemos que existem muitas pessoas interessadas em procurar uma música diferente, então cada show sempre tem uma parte do público que está experimentando esse tipo de música pela primeira vez.

Como o colapso da indústria fonográfica afetou o Magma
Christian Vander: A melhor coisa que fizemos até hoje foi criar nosso próprio selo, em 1987. Nós muito provavelmente vendemos muito menos do que se estivéssemos dentro de uma gravadora, mas tivemos o controle de tudo. Não precisamos discutir com ninguém o que precisamos gravar e como queremos fazer isso.

Hoje temos que lutar contra o fato de que quase todo mundo pensa que a música deve ser gratuita. Em como um artista poderia viver se toda a sua produção (horas, dias, semanas, meses de trabalho árduo) estiver online gratuitamente.

A música pop e a obsessão pelo sucesso
Christian Vander: Ao contrário do que muita gente pensa, a música pop foi muito forte nos anos sessenta também! Então nós tivemos os anos 70, onde tantas coisas mudaram e melhoraram. Algumas pessoas, indo de encontro com essa ideia das gravadoras, deram a oportunidade a vários artistas de criarem coisas diferentes com maior facilidade.

E então vieram os anos 80… cada década traz coisas boas e más, em todas as manifestações artísticas. Eu não diria que os anos 80 foram prejudiciais para a música, a obsessão pelo sucesso sempre esteve presente em todos os momentos e modelos de negócios, mas sempre houveram artistas que não deram certo ou que fizeram sacrifícios demais para seguirem o seu caminho.

A função da música em um mundo de intolerância
Christian Vander: A música sempre foi entretenimento, mas nunca foi só isso! A música também ajuda tantas pessoas a atravessarem momentos difíceis, por isso nunca foi só entretenimento. Mesmo assim, com o tempo e à luz dos acontecimentos mundiais, tenho uma visão de que o homem está se tornando cada vez mais sombrio. Há esperança para a humanidade, claro, porém é provável que o homem trabalhe por sua autodestruição, o que seria uma benção para todas as espécies que povoam o universo conhecido e desconhecido.

O futuro do Magma
Christian Vander: É muito provável que a gente grave um novo álbum em 2018 e lance em 2019 durante o aniversário de 50 anos da banda! E claro, planejamos uma turnê mundial para celebrar tudo isso!

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.