Entrevista

Entrevista RAPHAEL OTA

Cantor, compositor e multi-instrumentista, Raphael Ota faz tudo, inclusive boa música. Dono do EP Outra Direção, lançado recentemente, Raphael pode ainda não fazer parte de seu repertório artistas preferidos, mas já possui um currículo digno disso. 

Produtor, foi responsável por lançamentos de inúmeros artistas da cane alternativa como Encantoré, Fee Grilo, Peixinho da Maré, Leandro Hilários, Rick Marini, além da confecção de trilhas sonoras para canais relevantes do Youtube, como do Pyong Lee e da Katherine Chaise. Ainda assim, foi produzido por outro profissional dos estúdios digno de aplausos, Jeff Pina, responsável por trabalhos de Tiago Iorc e Anavitória.

Apostando em uma música intimista e repleta de detalhes, lançou o EP Outra Direção com três faixas de sua autoria, Outra Direção, Milenar e Longe Demais, dando um passo importante em sua carreira. E é diante disso que o Passagem de Som conversou com esse grande artista em uma bela entrevista.

A gravação – e opção – por um EP
Raphael Ota: O projeto do EP nasceu no começo do ano. Em abril gravamos 4 músicas, mas acabamos lançando duas delas como single: Sem Perceber e Quero um Agora. Como restaram duas sem serem lançadas e estavam surgindo várias composições novas, resolvi gravar e acrescentar mais uma canção no repertório do EP.

A opção do EP e não um disco cheio é porque vejo que a forma com que as pessoas consomem música hoje é diferente. Quando se trata de um artista em início de carreira e com o público ainda em formação, é mais interessante lançar trabalhos com menos faixas, para que cada música tenha destaque e não se perca no meio de um álbum.

Plataformas digitais, compactação e novos lançamentos
Raphael Ota: As plataformas digitais têm facilitado – e muito – o processo de lançamento, o que também acarreta em uma maior concorrência. Hoje qualquer pessoa consegue lançar com facilidade sua música. Dessa forma, projetar um lançamento é menos burocrático e mais estratégico.

Eu sempre comento nos estúdios: “nossa, caprichamos tanto para que o trabalho tenha qualidade máxima de áudio para que chegue nas pessoas com tudo compactado”. Mas eu também acredito que as pessoas, num modo geral, não se importam em consumir música com áudio sem qualidade. Sempre foi assim. Prova disso era a pirataria nos anos 90, os downloads de MP3 nos anos 2000 e, consequentemente, hoje em forma de streaming. Existem as pessoas que prezam por consumir áudios de qualidade e sabem os meios de como fazê-lo. Lamento por isso acabar sendo bem nichado.

O trabalho com Jeff Pina e o momento do folk/pop na música brasileira
Raphael Ota: O que eu mais aprendi neste ano foi a experiência de ser dirigido. Esses trabalhos com o Jeff Pina foram os primeiros em que eu não me produzi. É um processo de desapegar do preciosismo dos seus próprios processos de criação e deixar que outros contribuam com a sua arte.

Trabalhar com o Jeff é sempre muito bom. Nos tornamos amigos durante estes trabalhos e isso só faz com que o trabalho acabasse fluindo mais. Acredito que Pop/Folk tem tido grande impacto na música brasileira e tem criado um movimento musical, que não acontece tem muito tempo. Fico feliz em ver isso. Vários artistas surgindo com ótimos trabalhos. E todo mundo tá meio que ligado e se tornado amigos, se ajudando. Tá lindo de ver.

Tecnologia x palco
Raphael Ota: A tecnologia possibilita uma infinidade de elementos para acrescentar no resultado final. Conseguimos colocar timbres e cores de instrumentos sem necessariamente tê-los em mãos. É o caso de melotrons e rhodes, além de sintetizadores. Mas eles não se figuram como protagonistas, que no caso é a guitarra. Esta escolha foi particular do produtor, Jeff Pina, que queria uma sonoridade com menos violão por ele estar mais presente nos projetos dos demais artistas deste segmento. No palco somos em três. Eu (guitarra e violão), Leon Sanchez (baixo e teclado) e Marco Trintinalha (bateria). Adaptamos todos estes arranjos para serem tocados nessa formação, que acabam soando um pouco diferentes do disco. Cogitamos a opção de utilizar a tecnologia a nosso favor, soltando elementos pré-gravados, mas resolvemos que o show seria 100% orgânico.

A oferta de shows e o artista nacional
Raphael Ota: Acredito que independente da quantidade de shows que aconteçam no país, artistas no começo de carreira enfrentam a dura batalha de conquistar seu público e fazer com pessoas estejam dispostas a saírem de suas casas para assistir um show de projeto autoral. O que mais compromete o trabalho de divulgação é a concorrência. Com a internet são milhares de novos artistas e você precisa se destacar entre esses milhares.

A grande mídia e a nova mídia
Raphael Ota: Basicamente, você precisa ser relevante para ter os olhos da mídia. A rádio ainda continua sendo um grande difusor de música, mas todos esses meios ainda são fechados para novos artistas.

Música em tempos de internet
Raphael Ota: Se posicionar em termos polêmicos hoje é arriscado. Ainda mais com as redes sociais onde todos são juízes.

Futuro
Raphael Ota: Os planos para 2019 são mais shows e lançar novas músicas. Talvez explorar novas sonoridades? Vamos ver…

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.