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Jarre e o milagre da multiplicação

Dono de uma carreira tão extensa quanto a linha do horizonte, o francês Jean Michel Jarre celebra no mês de dezembro quatro décadas de uma de suas mais emblemática obra, Équinoxe, disco que abriu de vez para o mundo as portas de seu universo repleto de texturas e musicalidade.

Em tempos atuais é praticamente impossível ouvir qualquer uma de suas produções em uma rádio do FM, da mesma forma que é irreal alguém atento ao mundo da música desconhecer qualquer uma de suas obras.

Alçado ao patamar de um dos mais bem-sucedidos artistas da história e com números que ultrapassam a casa de 80 milhões de álbuns vendidos, o francês Jean Michel Jarre celebra em dezembro de 2018 quatro décadas de uma de suas principais obras, o seminal Équinoxe, disco que redefiniu de vez a estética da música eletrônica e abriu as portas para vertentes como o new age e o trance.

Équinoxe, lançado dois anos após o furacão Oxygène, de 1976, nem de longe conseguiu atingir a expressiva marca de 12 milhões de álbuns vendidos ou atingir o topo das paradas mundo afora, mas é seguramente o disco que consolidou Jarre como um verdadeiro ícone do mundo da música, sendo dono de uma máquina de sons capaz de transportar seu ouvinte para um outro lugar, tal qual uma realidade particular desenhada por seu protagonista.

Ouvir Équinoxe é, literalmente, abrir as portas da percepção sem a necessidade de nenhum aditivo. Gravado com mais de 15 tipos diferentes de equipamentos, todos operados por Jarre, nem se compara com o processo realizado em Oxygène, produzido de forma quase caseira em um estúdio improvisado. Daí a sua importância.

Composto por 8 faixas, o disco funciona como um universo ganhando forma a partir da vida independente de diversos de organismos que, ao perceberem sua função no mundo, entendem que podem funcionar muito melhor ao agirem juntos. São teclados e uma gama extensa de camadas que ouvidas de forma isolada funcionam com uma maestria quase surreal até que se intercalem e se transformem em algo ainda maior.

Fazendo referência direta ao seu título, Équinoxe (Equinócio, que na astronomia é o momento em que o Sol, em seu movimento anual aparente, corta o equador celeste, fazendo com que o dia e a noite tenham igual duração) é um disco conceitual que espelha a vida de um ser humano, despertando pela manhã (nas faixas 1 até 4) até a noite (partes 5 até 8). Por isso certas faixas do trabalho transitam especialmente pelo que em um futuro próximo seria conhecido como lounge music por seu andamento mais cadenciado. Já composições de sua segunda metade funcionariam como o embrião do trance, especialmente pelos teclados por Jean-Michel Jarre.

Mesmo sem atingir números tão expressivos como o primeiro disco do francês lançado pela Disco Dreyfus, é possível mensurar a representatividade de Équinoxe justamente por tudo o que se aconteceu nos anos seguintes na carreira do Jarre. Em 1979, no auge da carreira, o músico se apresentaria diante de mais de um milhão de pessoas em seu país estabelecendo um número histórico para um artista local. Esse recorde seria quebrado duas vezes posteriormente com um show para mais de 2,5 milhões de pessoas. Antes disso uma apresentação durante o aniversário da NASA levaria 1,5 milhões de pessoas a uma apresentação do músico francês.

Filho de um compositor de trilhas sonoras, Maurice Jarre. Jean passaria a ser procurado com cada vez mais frequência por diretores de TV e cinema para trabalhar em composições especiais para seus programas/filmes. São temas que se tornaram emblemáticos o suficiente para se tornarem símbolo de gerações.

Musicalmente consagrado, a tecnologia logo se tornaria o principal ingrediente da carreira do artista francês, que criou ao redor de sua música uma estrutura tão fantástica quanto um artista do primeiro pelotão da música pop como Michael Jackson e Madonna. São projeções, luzes e um sistema de som que passaram a dar às suas apresentações uma experiência única (e caríssima).

Ironicamente, Jarre é uma das poucas exceções do mundo da música a nunca ter se apresentado no Brasil. Mesmo com a extensa abertura para mega-shows no país, Jarre visitou a América do Sul somente em 2018, realizando uma apresentação épica na capital do país, em uma turnê acabou não passando por aqui.

O aniversário de Équinoxe não é só uma lembrança que você encontra aqui no Passagem de Som, já que Jarre seguirá reforçando a importância do disco com o lançamento de Équinoxe Infinite, sequência do trabalho original e seu vigésimo disco de inéditas. Um feito, dado que em sua discografia Jarre já coleciona – entre discos ao vivo e recordes, façanhas que o tornam um dos maiores artistas da história da música.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.