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Jeff Mills – O Homem do Amanhã

Um dos principais nomes da primeira edição do Dekmantel Festival no Brasil, o DJ e produtor americano Jeff Mills se mantém até hoje como um artista de vanguarda pronto para trazer ao país o passado, presente e, claro, o futuro do Techno.

Muito antes de Carl Cox se tornar um dos DJs mais bem posicionados no hoje polêmico ranking da DJ Mag e transformar o Techno em uma das vertentes mais populares do planeta… havia Jeff Mills.

Responsável por fazer do Techno uma das vertentes mais sólidas da música eletrônica, o produtor americano se prepara para voltar ao Brasil como uma das principais atrações de um festival que, assim como sua música, rompe a fronteira dos gêneros e transforma a música em uma experiência sensorial, muito além do que se ouve.

Fundador do seminal coletivo de Detroit, o Underground Resistance, Jeff Mills está para a música eletrônica como Jimmy Page ou Jim Morrison estão para o rock ou até Mozart e Chopin para a música clássica. Verdadeiro ícone do Techno até hoje, ajudou a criar as bases de tudo que o sucedeu sem nunca ter deixado de lado a evolução musical e a riqueza que sua música proporciona em sets que se tornaram lendários dentro do gênero.

O contexto que envolve a música de Jeff Mills também é fundamentado diretamente nas questões sociais e econômicas da década de 80 nos Estados Unidos. Na época governado por Ronald Reagan, Detroit escancarava os problemas étnicos e econômicos que praticamente isolaram a comunidade negra de Michigan na pobreza extrema.

A criação do coletivo do Underground Resistance se baseou no conceito de auto-exploração e busca contínua de mudança em seu círculo social. Inspirada nos ideais dos Panteras Negras da década de 70, tinha como foco a união entre a comunidade de afro-americanos de classe baixa e sua busca contínua por melhorias.

Nessa época o Techno também encarava ainda o preconceito das gravadoras, o que acabou proporcionando um fenômeno similar ao que aconteceu com o Public Enemy no início da carreira. Com tiragens limitadas e distribuídas somente em suas festas, os discos com produções do coletivo vinham carregadas de mensagens escritas por seus idealizadores, tal qual um fanzine. Dessa forma a sua mensagem acabou indo tão longe quanto sua música, o que acabou  chamando a atenção de cada vez mais produtores e público.

Musicalmente, o trabalho de Jeff Mills levou para o sisudo Techno referências impensáveis para quem se acostumou a ver essa vertente como algo artificial. Tratam-se de elementos de jazz, funk e hip hop que flutuam como uma obra minimalista em álbuns que se tornaram fundamentais para compreender o gênero. Exhibitionist, projeto de 2004  lançado por seu selo, a Axis, é o ponto alto de uma discografia de dezenas de álbuns que ainda incluem a série Waveform Transmission Vol.1 e Vol.2,  e os espetaculares The Other Day, Lifelike e Art of Connecting.

Considerado por DJs do calibre de Laurent Garnier como um dos mais influentes DJs de todos os tempos, Jeff Mills também coleciona entre seus principais fãs o rapper Eminem, que já declarou, inclusive em uma de suas letras, ser uma experiência única acompanhar um set de Mills, que no início da carreira utilizou o pseudônimo de The Wizard.

Nos últimos anos, considerado pela cineasta francesa Jacqueline Caux como o “Homem do Amanhã”, Mills trabalhou em projetos que vão além das pistas dos clubs americanos. Fazendo uso de todo aparato multimídia que a tecnologia vem lhe proporcionando, trabalhou em um projeto que aplicou uma trilha sonora no filme Woman in the Moon, lançado em 1929. Projeto similar foi realizado pelos franceses do Air no álbum Le voyage dans la lune, Georges Méliès.

Na última vez que veio ao Brasil, Jeff Mills encerrou de forma brilhante a edição 2012 do Sónar SP. Sem vir ao país há cinco anos, a oportunidade de conferir ao vivo um set de um dos maiores e mais dedicados nomes da música eletrônica é única não só para quem entender o passado da música eletrônica, mas compreender o presente e, principalmente, vislumbrar seu futuro. 

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.