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Novembro Azul e o mundo da música

Começar esse texto em forma de alerta talvez seja a forma mais efetiva de se abordar um assunto que, infelizmente, acabou se tornando piada para muitos homens a todo mês de novembro. Basta iniciar o mês e a pauta referente ao câncer de próstata se confunde com piadas homofóbicas, ignorando o real valor dessa campanha.

Subestimado, o câncer de próstata é a segunda principal causa de morte por câncer em homens, atrás somente do câncer de pulmão. Segundo dados Instituto Nacional de Câncer (INCA), mais de 83 mil homens foram diagnosticados com essa patologia em 2019, vitimando quase 1/4 desse total.

Mas o que isso tem a ver com o mundo da música? Absolutamente TUDO. Por ser uma doença que não se manifesta em seu primeiro estágio, a prevenção é sempre fundamental para um tratamento menos invasivo, o que aumenta as possibilidades de cura. E não faltam exemplos para serem citados. Provavelmente Frank Zappa tenha sido o de mais destaque, dado o fato de que o motivo de sua morte, em 1993, hoje seja visto como piada. Afinal “como alguém tão louco e rebelde poderia morrer disso?”.

É triste, mas a realidade é que vários grandes nomes passaram a conviver com essa doença nos últimos tempos, alguns deles considerados pilares de suas vertentes musicais. Pouco se fala, mas sabe-se que o eterno vocalista do Motorhead, Lemmy Kilmister, foi outro que conviveu durante muito tempo em um tratamento contra um agressivo câncer de próstata. A insuficiência cardíaca, que resultou no seu óbito no fim de 2015, aconteceu devido a um acúmulo de problemas de saúde, o principal deles esse tipo de câncer, mas se tornou mais fácil para uma boa parcela do público dizer que foi graças ao diabetes. Mais “masculino”…

Outros nomes como Rod Stewart e Rob Halford também merecem destaque. O primeiro talvez seja um caso emblemático porque durante todo o tratamento acabou escondendo do público e grande parte dos amigos, revelando sua luta somente em um evento beneficente, quando o câncer entrou em remissão. Mesmo o vocalista do Judas Priest, especialista em derrubar tabus, enfrentou de frente a doença durante o ano de 2020, mas também não revelou ao mundo até que o resultado do tratamento fosse efetivo. Bill Wyman, ex-integrante dos Rolling Stones, e Phil Lesh, do Grateful Dead, também encararam um período duro no tratamento da doença, hoje superada.

Sabemos que o câncer, qualquer um deles, normalmente gera comoção, mas falar sobre o câncer de próstata ainda causa uma reação diferente na comunidade musical e basta observar exemplos óbvios. Diferente de Dave Mustaine, Bruce Dickinson e tantos outros, que se afastaram da música para se tratar, o câncer de próstata segue velado, impedindo que aqueles que a venceram se tornem uma bandeira na campanha de prevenção do mesmo.

Em uma estatística que só cresce, o jazzista sul-africano Hugh Masekela, o guitarrista Johnny Ramone e o cantor norte-americano Dan Fogelberg são mais alguns exemplos de uma triste realidade. Por isso, falar de câncer de próstata em um site de música se torna mais do que necessário.

Uma atitude bem interessante e que merece ser ressaltada é a do lendário guitarrista Buddy Guy. Em 2017, o bastião da geração de ouro do blues colocou na estrada a turnê Blues for Prostate Cancer, quando realizou uma sequência de shows pelos Estados Unidos onde palestras educativas eram realizadas. Uma atitude louvável e que deveria se tornar comum, especialmente nesse momento (quase) pós-pandemia, após um período em que passamos a olhar cada vez mais para nossa saúde.

Realize seus exames e deixe o preconceito de lado. Se você tem mais que 40 anos, não deixe para depois, seu amor pela música é muito maior que qualquer piada sem sentido.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.