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O fenômeno The Piano Guys

Eles não tocam no rádio ou aparecem nas TVs brasileiras da forma como nós estamos acostumados a ouvir, mas são responsáveis por um dos maiores fenômenos da indústria fonográfica nos últimos anos. Fruto de uma geração que aprendeu a conhecer seus artistas através da internet, o The Piano Guys vem ao Brasil pela primeira vez para mostrar ao vivo como música clássica e cultura pop caminham de forma íntima e dispostos a eliminar de vez o abismo entre ambos os gêneros.

Formado nos Estados Unidos em 2010 por Jon Schmidt e Steven Sharp Nelson, além de Paul Anderson e Al van der Beek, o The Piano Guys tem atingido números expressivos até mesmo no Brasil, onde já alcançou o status de DVD Duplo de Platina com seu primeiro DVD, além da marca de mais de 340 milhões de visualizações no YouTube. No repertório estão versões que vão de Adele a David Guetta, além de nomes sagrados na história da música clássica como Beethoven e Vivaldi.

Fazendo um paralelo sobre o trabalho do The Piano Guys, é possível comparar sua ascensão ao fenômeno chinês Lang Lang, que levou a música clássica a um nível inimaginável nos últimos anos. O reflexo disso pode ser percebido na última edição do Grammy, quando o jovem pianista subiu ao palco ao lado do Metallica para uma apresentação memorável. No caso do The Piano Guys, a aproximação com o público mais jovem acontece principalmente pelo apelo visual, perceptível nas produções que o grupo disponibiliza através de seu canal no You Tube, além de um repertório repleto de músicas tocadas à exaustão nas rádios de qualquer canto do mundo, despertando a curiosidade de um público afoito por novidades e que consome música, no sentido literal da palavra.

Muito do sucesso alcançado pelo The Piano Guys está justamente no fato de seu time não ser tão jovem e ser composto por artistas que já ultrapassaram a barreira dos 30 anos. Um dos fundadores do projeto, o pianista Jon Schmidt está no auge de seus 47 anos enquanto Steven Sharp comemora em 2014 seus 37 anos de idade. No currículo, a experiência de ter seu nome ligado desde a infância à música clássica e o rompimento gradual com esse conservador universo. Foi justamente esse lado extrovertido que capitalizou o nome do grupo após vídeos como o de Cello Wars, uma paródia feita com o título da série Star Wars, onde o grupo se inspira em personagens enquanto executa suas faixas mais clássicas.

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Mas ainda que sejam naturalmente considerados músicos de talento, há elementos que diferenciam o The Piano Guys na esfera da música clássica. A proximidade do pianista Jon Schmidt com a new age e a técnica reconhecida como Cello-Percussão desempenhada por Stephen Sharp dão corpo a um trabalho reforçado pelo videomaker Paul Anderson e o multiinstrumentista neo-zelandês Al van der Beek, transformando-o nitidamente em um coletivo multimídia.

É cedo para se pensar em um legado, mas é fato que o The Piano Guys é um dos principais pilares desse universo multimídia, tendência que pode ser sentida com maior intensidade após a virada do século e que vem proporcionando uma experiência nova ao público, principalmente se considerarmos no ambiente da música clássica, onde é perceptível que sua natureza acabou inibindo uma renovação natural e a assimilação de novos elementos.

Esse novo ciclo de produção musical pode ser sentido com o surgimento de grupos como o 2Cellos, que se apresentou no Brasil em 2013 pela primeira vez e que é lembrado por sua parceria com o guitarrista Steve Vai, além da maior visiblidade de grupos como o quinteto finlandês Apocalyptica, que realiza um trabalho similar desde a virada do século, porém, limitado à cena heavy metal em boa parte da carreira, hoje vem alcançando um reconhecimento cada vez maior graças a grupos como o The Piano Guys.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.