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Quicksand: Atolado em riffs

Pela primeira vez no Brasil, trio americano traz ao país sua mais intensa avalanche de riffs produzidos em uma geração do rock onde fazer barulho era muito mais importante que fazer dançar.

O Quicksand não foi formado no epicentro do furacão grunge que redefiniu o rock no início da década de 90. Também não fez parte da lendária gravadora Sup-Pop, responsável por ume enormidade de nomes clássicos que mesmo com muito esforço não caberiam nessa matéria. Nasceu não muito distante dali, em Nova York, também bebendo da música pesada, mas dando a ele sua própria forma através dos riffs de Walter Schreifels.

Quem vasculha a história do até então jovem guitarrista normalmente cruza seu nome com o de bandas clássicas da cena hardcore nova iorquina, caso do Youth of Today e do Gorilla Biscuits, bandas até hoje na ativa, mas o que nasce a partir da fundação do Quicksand caminha de forma mais clara por uma mescla de gêneros que coloca o grupo como um ponto fora da curva em um dos momentos de maior ebulição da música pesada norte-americana.

Acompanhado de Tom Capone, Sergio Vega e Alan Cage, também oriundos de bandas que iam muito além do hardcore mais tradicional, o Quicksand teve na formação de seu DNA vertentes diferentes e a oportunidade de excursionar com outros nomes revolucionários da época, caso do Rage Against the Machine, Helmet, Fugazi, Anthrax e White Zombie, praticando um crossover que acabou despertando o interesse da Polydor Records.

É aí que nasce Slip, primeiro trabalho oficial do Quicksand e um verdadeiro soco no estômago. Não é grunge e não é metal, muito menos punk. Explosivo e composto de faixas curtas, o disco explora o caminho aberto por bandas como Fugazi e Helmet, absorvendo elementos de heavy metal, hardcore e até indie rock, dando forma a um rock cru e cheio de distorção.

Não demoraria para que o grupo chamasse a atenção e se tornasse referência em uma cena que viria a se consolidar como post-hardcore, definindo sua identidade a partir de um maior grau de introversão e linhas mais experimentais, além de muito, muito peso.

A ascensão natural do Quicksand resultaria dois anos depois no lançamento de Manic Compression, álbum que consolida de vez a banda como uma das mais importantes – e sobrevivente – de um gênero alheio ao grande público, ainda que o disco tenha sido lançado por nada menos que a Island Records, grupo da Universal Music. Lançado em fevereiro, o Quicksand teve apenas seis ou sete meses de divulgação até entrar em um hiato que levaria mais de duas décadas para ser quebrado.

Nesse período muita coisa aconteceu. Walter Schreifels lançaria três álbuns com o Rival Schools e trabalharia em diversos projetos até o retorno da banda. Sergio Vega se transformaria em baixista do gigante Deftones após o afastamento de Chi Cheng em 2008, sendo efetivado em 2013, após o falecimento de um dos fundadores da banda. Já Tom Capone teve uma sequência difícil. Aparentemente sucumbindo ao vício, chegou a ser preso no último ano e não participa da turnê de reunião da banda, realizada após o lançamento de Interiors, disco que marca a volta da banda de forma definitiva após uma tentativa frustrada próximo da virada do século.

Mesmo lançado mais de duas décadas depois, a música de Interiors nasceu ainda na esteira de Manic Compression, quando o Quicksand tentou retornar ao estúdio após uma turnê com o Deftones, porém, naquele momento, os conflitos internos sepultariam os planos de um disco de inéditas, algo que só possível agora, em 2017.

Pensar na história do quarteto (agora trio) norte-americano quase três décadas após seu surgimento é isolar uma parte da história da música que evoluiu até se tornado o que é hoje. O post-hardcore, vertente popularizada ainda na década de 90, ocupa hoje uma posição de destaque frente ao grande público, especialmente quando pensa-se em uma segunda onda de artistas nascida na virada do século. Que digam os fãs de gente como o grupo A Day to Remember, Asking Alexandria, A Static Lullaby e Alexisonfire, entre muitos outros…

Por isso não é exagero dimensionar a importância da turnê do Quicksand em solo brasileiro, mesmo tanto tempo depois. Corrigindo um hiato onde parte das bandas influenciadas pelo seu próprio som pisaram por aqui, o grupo americano traz na bagagem riffs nascidos na década de 90, mas com a mesma energia e potência de qualquer nome atual.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.