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Resenha: Steve Vai – Inviolate

Escrever sobre alguém como Steve Vai normalmente envolve hipérboles sobre suas performances, sua megalomania técnica, mas também pela sua reverência à arte. E é justamente esse último elemento que supera os dois primeiros e transforma o guitarrista americano em um artista totalmente fora da curva (claro, com muitas hipérboles).

Em seu 10º álbum de inéditas na carreira, Steve Vai mostra estar muito mais próximo do início que do fim de sua história, mas agora com um senso estético muito mais apurado que os tempos onde parecia buscar uma identidade após a passagem pelas bandas de Frank Zappa e do Whitesnake. Em Inviolate, o guitarrista traz o auge de popularidade de sua carreira solo, nos tempos de Alien Love Secrets e Fire Garden, com um toque espiritual que sempre foi a marca registrada de seu trabalho. É possível cantar suas melodias deixando de lado as milhares (e bote aí muitas milhares mesmo) de notas executadas. Ufa!

De início bastante impactante, com a atmosférica Teeth Of The Hydra, o 10º disco de Vai já apresenta suas cartas definitivas logo de cara, com Zeus in Chains, provavelmente sua melhor faixa nessa década, e a cadenciada Little Pretty. É o velho Steve com a sensibilidade de um novo e inovador Vai.

Artista de inúmeras superstições e lendas, além de experiências e uma devoção incondicional pelo divino, especialmente na figura do número/faixa 7, o guitarrista americano repete a estratégia de investir em um ponto especial do disco nessa faixa. Tão famosas em seus álbuns anteriores, a faixa 7 Greenish Blues não faz feio ao legado, embora ganhe ainda mais sentido pelo contexto do álbum, que na maior parte do tempo acerta continuamente, exceto nos exageros encontrados em Avalancha, a mais descartável do álbum. Mesmo Knappsack, que inicialmente parece repetir a ideia de milhares de notas por segundo, logo desenvolve um ritmo fácil de cantarolar, como se falasse por si só.

Com muito mais (muitos mesmo) acertos que erros, Inviolate é o tipo de disco que parece garantir ao público de Vai a certeza de que, por mais que alguns discos mais experimentais tenham lhe dado a impressão de sempre tentar não se repetir, a essência estará sempre lá. Tem um pouco de Fire Garden, de Ultra Zone ou até Real Illusions. São várias estradas se cruzando, todas elas em uma busca insana, o que até já afastou uma parcela de seu público, pelo que pode ser o nirvana ou a mais completa perfeição de seu criador.

E se você olhou a guitarra utilizada no disco, batizada de The Hydra Guitar e utilizada na faixa que abre o disco, e se assustou (como eu, óbvio), acredite, não há ali megalomania, mas um projeto que une guitarras de 7 e 12 cordas, um baixo elétrico de quatro cordas com comprimento de escala de ¾, cuja metade do braço adota uma configuração fretless (sem trastes), e ainda uma mini-harpa de 13 cordas. E só um homem poderia tocar isso, Steve Vai.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.