Notícia

BaianaSystem lança curta “Manifestação – Carnaval do Invisível “

Desde o século XIX, o Carnaval de Salvador é uma tradução da cidade, seu povo e sua história. Após dois anos de suspensão (2021 e 2022) dessa que é uma das maiores e mais simbólicas festas de rua do mundo, abriu-se uma lacuna para pensar e sentir o que essa ausência significa, fortalecendo o questionamento sobre “como serão os futuros carnavais”.

É a partir dessa provocação que a Amazon Music.br e o BaianaSystem apresentam um documentário musical inédito, com duração de 22 minutos, realizado pela Máquina de Louco com produção associada da Janela do Mundo. Um manifesto visual contado a partir do olhar do personagem “Invisível”,  que volta à cena para manifestar aquilo que os sentidos sozinhos não dão conta. Uma testemunha da história com suas marcas e seu olhar mais profundo. 

Com estreia marcada para o dia 21 de fevereiro, às 9h, através do canal da Amazon Music no Youtube, o filme foi realizado nas ruas do centro antigo de Salvador, onde o Carnaval acontece. Um território potente, de construção de identidades, mas também de conflitos e tensão social. Através de depoimentos, imagens de arquivo e metáforas visuais, a narrativa é costurada pela onipresença da música, substrato e fundamento da festa.

O documentário vem justamente no momento em que a representação do silêncio abre novos caminhos. O renascimento que se propõe a partir das Cinzas tem ainda mais força com a necessidade de renovar as esperanças, de acreditar que a ocupação dos espaços é a grande maneira de transformar, e o Carnaval continua sendo uma jóia desse experimento humano nas Américas.

Pesquisas e Depoimentos

Através de preciosas imagens de arquivo, o filme apresenta registros de carnavais desde a década de 40 até os dias atuais: Fotografias do Acervo Afro Fotográfico Zumvi, idealizado pelo fotógrafo baiano Lázaro Roberto; fotografias e imagens em Super 8 realizadas na década de 70 pelo icônico fotógrafo musical Mario Luiz Thompson; imagens do acervo da TVE Bahia e doArquivo Público Municipal; além dos registros documentais dos carnavais do BaianaSystem e seu Navio Pirata, feito por diversos fotógrafos ao longo dos últimos 10 anos. 

Para contribuir com o recorte proposto, a produção conta com a presença de quatro personagens que têm uma forte ligação com o Carnaval em seus diversos aspectos: A antropóloga baiana Goli Guerreiro, autora dos livros “A Trama dos tambores” e “Terceira Diáspora”; O músico e educador Mestre Jackson, história viva do Carnaval, com passagens pelo Olodum, Apaxes do Tororó e Comanches do Pelô, um dos criadores de células rítmicas que deram origem ao samba reggae e suas derivações; O músico e educador Ubiratan Marques, regente e diretor da Orquestra Afrosinfônica; e Mateus Rocha, cineasta e folião do BaianaSystem. 

 Repertório

A trilha sonora que costura todo o filme se baseia na importância que os ritmos tiveram na construção dessa história. Criada a partir do repertório do Baianasystem, com destaque para o Ijexá e o Samba Reggae como células fundamentais, as faixas se intercalam com a narrativa em diferentes versões, somadas a um encontro musical entre Ubiratan Marques e Mestre Jackson, produzido especialmente para o documentário.

Máquina de Louco e BaianaSystem

Criada para a difusão de sonoridades, artes e experiências do BaianaSystem, a Máquina de Louco é uma plataforma sonora vídeo gráfica diretamente conectada com a memória e com a valorização de uma cultura pulsante e viva, presente nos rincões da Bahia profunda, de saberes ancestrais, mestres e griôs. No filme, essa conexão se faz presente em cada cena e culmina com a beleza da poesia de Juraci Tavares, poeta e compositor baiano. 

O curta metragem também resgata um personagem marcante na história do BaianaSystem e que já esteve presente no clipe “Invisível”, provocando uma reflexão sobre os trabalhadores da folia que são marginalizados e jogados à invisibilidade, como cordeiros, catadores de lixo e vendedores ambulantes. Em contraste com o apagamento de sua humanidade, o Invisível interpretado no filme pelo ator baiano Leno Sacramento, do Bando de Teatro Olodum, convoca seu corpo à vida e à presença, encarnando o espírito da manifestação.

As imagens do Navio Pirata e sua multidão de foliões complementam a presença do BaianaSystem no documentário. Mais que um trio elétrico, o Navio Pirata se transformou num símbolo do grupo nas ruas, onde o conceito de ter um caminhão de menor porte, mais próximo do público e que vinha na contramão do que estava acontecendo no Carnaval, serve de metáfora para o mar de gente que acredita no poder do público de celebrar e transformar.

Impressões sobre o filme

“Foi na pulsação da batida do tambor que o meu coração se libertou e permitiu que o meu corpo criasse uma dança, compusesse músicas que contassem a nossa história de resistência, descortinasse nossos heróis e heroínas, desmentisse os equívocos históricos … Ao som do tambor resgatei minha auto estima! No Carnaval, resgatei a minha nobreza! A Revolução rítmica, estética e musical, só poderia acontecer no Carnaval.” (Arany Santana – professora e fundadora do Ilê Ayê)

“A importância dessa peça é mostrar para o mundo o que só quem estava lá, quem está aqui, vê. Não é de hoje, é de sempre. O carnaval de rua fora dos clubes, fora do circuito oficial. Os trabalhadores que estão embaixo do trio, a música afro-brasileira que é a gênese disso tudo, é o axé inteiro que realiza. O rum, rumpi, lé. O batuque quando o dia amanhece. Carnaval é isso, e ainda assim, invisível.” (Pedro Tourinho – empresário e gestor de carreira)

“Não há volta mas há passado. Um amontoado de memórias reinventadas

a cada dia, recontado de muitos modos a depender de quem, quando e onde conta.

Material a ser deglutido em muitos presentes e possíveis futuros e reapresentado como se fosse o que nunca foi. 

É o que faz o carnaval.

É o que faz o carnaval invisível do BaianaSystem.

É o que faz o BaianaSystem no carnaval. Reinventar o que nunca foi inventado,

deglutir o passado para não ser devorado por este tempo que se instalou no país

e no mundo. E não há nem haverá volta.” (Márcio Meirelles – autor e diretor de teatro)

“Efêmera, a cidade erguida pelo carnaval se distancia do cotidiano. Longe do dia-a-dia, contudo, o carnaval não esconde o que somos, cidade e gentes. Ao contrário, amplifica e expõe a perversa crueza da desigualdade que marca desde sempre a vida da cidade. Aqui, temos que ser gratos a Momo. Sim, porque ele nos oferece seu reinado como palco privilegiado para nossa alegria mas, também, para dramatizarmos a miséria, esta, desgraçadamente, o pão nosso de cada dia da Cidade da Bahia.” (Paulo Miguez – professor da UFBA)

Ficha técnica

Direção: Filipe Cartaxo, Letícia Simões e Russo Passapusso

Elenco: Leno Sacramento, Goli Guerreiro, Mestre Jackson, Maestro Ubiratan Marques, Matheus Rocha, Emilly e Emanuelly do Rosário Silva Santos

Trilha Sonora: BaianaSystem e Maestro Ubiratan Marques 

Produção: Máquina de Louco

Produção associada: Janela do Mundo

Ano da produção: 2022

Duração: 22 min

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