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Chemical Brothers: Equalizando a carreira

Pensar na música eletrônica da década de 90 sem Tom Rowlands e Ed Simons é simplesmente impossível. Pensar que hoje em dia DJs são chamados de superstars sem lembrar do Chemical Brothers menos ainda. Donos de uma quantidade de hits capazes de impressionar qualquer um e botar uma festa para dançar, a dupla inglesa se prepara para lançar seu oitavo álbum, Born In The Echoes,

Recheado de participações que passam por nomes como Beck e St Vincent, o novo álbum do Chemical Brothers surge cinco anos após o irregular Further, que acabou passando em branco pelo grande público. Nesse período ainda houve espaço a trilha sonora de Hanna e o multimídia Don’t Think, talvez o passo mais ousado da dupla nos últimos anos quando pensamos em um trabalho multimídia.

Veterano demais para se apoiar no glamour da chamada EDM, o Chemical Brothers hoje busca muito mais se definir na música eletrônica do que necessariamente emplacar singles como duas décadas atrás. Born In The Echoes, que será lançado mundialmente no próximo dia 24 de julho, reafirma a condição de vanguardista do Chemical Brothers e parece novamente colocar a dupla nos eixos em um cenário completamente novo e inóspito.

Mesmo respaldado por uma história impossível de ser apagada, essa decisão se torna arriscada o suficiente para a dupla que um dia fez com que rádios rock executassem à exaustão a faixa Block Rockin’ Beats, tamanha verve rockeira acumulada em sua história. E essa expectativa pelo lançamento de Born In The Echoes tem ligação direta com o público mais jovem, que tem em mente a sensação de nostalgia acumulada pelos álbuns Exit Planet Dust (1995) e Dig Your Own Hole (1997).

Em seu vindouro álbum, o Chemical Brothers carrega mais do que nunca sua paixão pelo mundo do rock. Assim como um dia os Rolling Stones se isolaram do mundo um dia durante as gravações do épico Exile on Main Street (1972), o Chemical Brothers se trancou em um quarto escuro no sul da Inglaterra para redefinir sua música.

Echoes, nome do bucólico e isolado estúdio da dupla, foi o cenário escolhido para dar início a sua nova incursão no mundo da música. Daí a origem do nome do álbum, Born In The Echoes. Dentro desse quarto escuro elementos eletrônicos, hip-hop, rock e funk ganharam forma em faixas que compõem o novo projeto da dupla.

Com seu primeiro single, Go, o Chemical Brothers teve na voz do rapper Q-Tip o ingrediente necessário para seu retorno triunfal ao mundo da música. Recheado de expectativa, a faixa foi utilizada pelo Google durante o lançamento do Google’s I/O Keynote e teve seu videoclipe dirigido por Michel Gondry, dando solidez à tendência multimídia sempre bem trabalhada pela dupla.

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Logo em seguida veio Under Neon Lights, que conta com a participação de St Vincent e revitaliza a atmosfera oitentista explorado pela cantora em sua carreira. Com dois singles bastante elogiados e posicionados em sequência na tracklist do disco, o novo álbum do Chemical Brothers mantém sua tradição em apresentar bons singles, mas logo mergulha em uma densa experiência sonora.

Bastante orgânico, o disco impressiona pela amálgama de ritmos que tem tudo para causar estranheza ao público menos acostumado. Just Bang, Reflexion e Taste of Honey se mostram introspectivas o suficiente para reforçar essa tendência contemplativa da dupla em suas apresentações.

Caminhando por um universo distante daquele onde vivem Hardwell, Kaskade, Tiesto e todos os DJs que hoje parecem lotar arenas, o Chemical Brothers mostra que sua escolha em Born In The Echoes ainda é proporcionar uma experiência sinestésica através da música, o que nem sempre inclui dançar com ela.

Amparado pela experiência multimídia acumulada em Further e no DVD Don’t Think, a dupla inglesa parece se aproximar ainda mais da perfeição na busca pela música e imagem como algo único. A própria faixa título de seu novo álbum, que conta com a vocalista Cate Le Bon, além do final melancólico de Wide Open, que traz os vocais de Beck, são a prova de que o Chemical Brothers está muito bem resolvido na atual cena eletrônica. E sim, eles não fazem a menor questão de seguir tendências e serem mais um no mundo da EDM, afinal, o ponto forte da dupla nunca foi seguí-las, mas ser responsável por ditar as mesmas.

Headliner de festivais como o Sónar (inclusive a edição brasileira) e o rockeiro Eurockéennes, o Chemical Brothers ainda se mostra relevante sem trair seu passado. Com uma proposta que pode sacrificar parte de seu público, a dupla acerta ao qualificar sua audiência sem abandonar suas raízes.

Hoje mais dinâmica e instável do que nunca, poucos nomes na música eletrônica são capazes de construir um legado tão grande. Rodeado por singles dos mais variados DJs em busca do topo da lista da DJ Mag, a dupla formada por Tom Rowlands e Ed Simons justifica a espera por seu novo álbum muito mais pela integridade de sua música do que pela euforia dos fãs. E é justamente isso que os tornam verdadeiros Superstar DJs, termo adotado no fim da década de 90 depois de ter escrito seu nome no gênero que é hoje um dos mais populares do planeta.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.