Entrevista

Entrevista ACID MOTHERS TEMPLE

Eles não são uma banda. Também não são desse planeta. Ou talvez sejam ambos e estejam tão a frente de seu tempo que fica difícil identificar com clareza a profundidade da música do grupo japonês Acid Mothers Temple, um coletivo liderado pelo guitarrista Makoto Kawabata.

Especialista em realizar um projeto de imersão musical inspirado pelo compositor alemão Karlheinz Stockhausen e toda cena de Krautrock e hard rock progressivo dos anos 70, o Acid Mothers Temple nasceu em 1996 da ideia de Kawabata de dar a músicos desconhecidos a chance de gravar e lançar álbuns que chegassem a um público mais amplo. Desde então, o coletivo já lançou vários discos e teve diversas formações, sempre com um rock psicodélico-progressivo.

Pronto para realizar sua primeira turnê em solo brasileiro, o grupo hoje é formado, além do mentor Makoto Kawabata (guitarra), por Atsushi Tsuyama (baixo), Higashi Hiroshi (guitarra e sintetizador), Ichiraku Yoshimitsu (bateria) e Cotton Casino (voz e sintetizador). E aproveitando essa oportunidade única, o Passagem de Som conversou com o extravagante Makoto Kawabata em uma entrevista épica para o Passagem de Som.

O que esperar dos shows do Acid Mothers Temple no Brasil
Makoto Kawabata: Não tenho ideia do que esperar desses shows. Sempre recebo a música dos cosmos como se fosse um rádio sintonizando sua frequência e toco ela para as pessoas.

O cosmos sempre me ensina o que deve ser tocado naquela hora. Na verdade ele me ensina o que é preciso ser feito e tocado o tempo todo na vida. Com isso eu transmito minha vibração para os outros membros da banda como uma telepatia musical e eles vão me seguindo. Nós queremos fazer as pessoas felizes e explodir suas cabeças com a nossa música.

A influência das bandas psicodélicas clássicas no Acid Mothers Temple
Makoto Kawabata: Gosto muito dessas bandas consideradas “classic rock”, especialmente dos anos 60 e 70, mas títulos de álbuns que lançamos como Grateful Head, Absolute Freak Out ou My Guitar Wants To Kiss Your Mama não possuem nenhum significado especial. Os títulos são em inglês porque essa não é minha língua nativa e sabemos que é mais fácil compartilhar a nossa música com o mundo em um idioma que todos falam, mas não existe nenhuma mensagem no que eu faço, é apenas música e nada mais.

Sobre como seria tocar com esses caras o que posso dizer é que o cosmos diria para mim se isso deveria acontecer. A música é algo muito completo quando nasce, nós precisamos absorvê-la da forma mais pura possível quando ela está nascendo independente de quem esteja tocando com você.

Música fácil x música difícil
Makoto Kawabata: Eu nunca considerei o que chamam de música pop como uma categoria porque eu gosto de pop, especialmente de ABBA! Eu amo o que eles fazem porque eu nunca vou conseguir fazer algo igual!

A função da música no mundo
Makoto Kawabata: Eu não tenho nenhum conhecimento sobre como anda a música desde 1982… parei de acompanhar tudo o que acontecia na época e não sei nada sobre essas bandas chamadas do novo rock.

Estou sempre na cena musical nesse circuito que é conhecido como o “Underground Japonês”, sempre tratei minha música como uma variação do famoso D.I.Y. (Do it yourself, o “faça você mesmo”) com um slogan que apelidei como “D.T.A.” (Don´t Trust Anybody, ou “Não confie em ninguém”) desde 1978. Não me importa qual a visão da música ou do mundo feita por outras pessoas.

A cultura japonesa e identidade da música do Acid Mothers Temple
Makoto Kawabata: Nós somos japoneses nativos, temos o sangue japonês correndo em nossas veias. Se somos japoneses e temos esse sangue, nós naturalmente temos a influência de elementos culturais japoneses em nosso trabalho, certo?

Se você olhar para músicos alemães tocando qualquer vertente musical você vai perceber que são alemães fazendo música com uma atmosfera própria. Isso vale para franceses, coreanos ou qualquer nacionalidade, Nós não precisamos ter alguma influência específica japonesa na nossa música porque qualquer influência acontece porque somos simplesmente japoneses e isso basta!

Acid Mothers Temple mundo afora
Makoto Kawabata: Nossa música não tem nenhum significado específico, mesmo as letras não tem um ideal por trás quando cantadas. A música é simplesmente música e as pessoas podem sentir algo simplesmente por estarem ali ouvindo os sons. Muitos japoneses não falam outra língua que não seja o japonês e amam a música do Ocidente, a música… a nossa música não tem fronteiras e deve ser compartilhada por pessoas que achem necessário fazer isso em qualquer lugar do planeta.

A tecnologia e sua relação com o Acid Mothers Temple
Makoto Kawabata: Não sei o que as pessoas entendem como “nova música” porque pessoalmente não me interessa nem um pouco isso. Quando realizamos um trabalho e nos apaixonamos por ele eu vejo como uma mensagem do cosmos indicando que devemos seguir em frente e por isso as coisas funcionam no Acid Mothers Temple. Meu cosmos me conta quando devemos seguir em frente com uma formação específica da banda. Você vai perceber isso em nossos trabalhos e nos shows que faremos no Brasil.

O futuro do Acid Mothers Temple
Makoto Kawabata: Não tenho ideia do vem pela frente… na verdade eu e ninguém sabemos o que vai acontecer daqui 1 minuto… mas é claro que nós temos alguns negócios projetados o fim desse ano ainda, disponibilizando novo material da banda. Isso vai acontecer tanto agora como no ano que vem. Vamos realizar nossa turnê pela América do Norte na Primavera, Europa no outono e ainda teremos um novo vocalista em 2018.

Mas na verdade a única coisa que queremos sempre é voar até o fim do universo para descobrir todos os seus segredos.

About the author

Avatar

Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.