Entrevista

Entrevista ALDO

O nome você já conhecia, mas agora é diferente, mas talvez nem tanto. Formado por André e Murilo Faria, você provavelmente já deve ter cruzado com a Aldo The Band em algum momento de suas incursões musicais. Grupo que alcançou expressividade na cena alternativa, a Aldo abandonou o The Band e agora segue em frente com um EP que tem tudo para ganhar de vez o público, o criativo Papermaze.

Depois de assinar com o selo inglês Full Time Hobby e eleitos “Next Wave Band” pela rádio BBC1, os irmãos André e Murilo Faria colocaram synths e guitarras no carro, pegaram estrada para Campos do Jordão, cidade há duas horas de São Paulo, para que, isolados do caos da terra da garoa, conseguissem compor. “Papermaze” foi a primeira faixa a nascer deste momento, com um beat criado a partir de uma levada de berimbau e linhas de baixo inspiradas em Kim Deal, devido ao trânsito na Marginal que foi embalado pela discografia inteira da banda Pixies na estrada. A música discorre sobre a surrealidade, inconsciente e o caos de viver numa cidade tão viva como São Paulo. 

É um novo momento. E melhor impossível. De olho no futuro e inspirado por tudo que o cerca, Aldo é a bola da vez. E, claro, está aqui no Passagem de Som com uma grande entrevista!

A volta do Aldo
Murilo Faria: O Aldo passou por muitas fases, das boas às ruins. Costumamos dizer que poucas bandas da cena alternativa erraram mais do que a gente. O bom disso é que pudemos aprender bastante. E uma das coisas mais legais é que conquistamos a nossa independência, nossa união (lembre-se que somos irmãos o que deixa tudo mais explosivo) e, principalmente, nossa ideia de som.

O caminhos até Papermaze. influências a tudo que cerca a dupla
Murilo Faria: Vamos por partes. Nascer e viver em um ambiente como São Paulo é algo que com certeza mexe com você. Não é uma cidade fácil, não é uma cidade normal, não é uma cidade digamos assim… agradável. E isso nos influencia desde a hora que acordamos pensando ou fazendo música até a hora que dormimos. 

Papermaze nasceu numa onda e uma vibe bem deprê em relação à cidade e isso tudo. Tanto que nos isolamos em Campos do Jordão, no meio da montanha, para fugir um pouco desse caos. E lá de cima poder ver toda essa doideira sem ser infectado. E aí sim poder ter alguns espaços para lembrar da Kim Deal e de uma série de outras influências que só essa distância propicia. Foi, sem dúvida, uma das semanas mais legais dos últimos tempos.

O interesse pela música autoral no Brasil
Murilo Faria: Nosso manager disse uma coisa que nos marcou bastante quando decidimos trabalhar juntos. Ele falou “Legal que vocês são brasileiros e tudo, mas estou mais interessado na música que vocês fazem, não de onde vocês vem…”. Acho que tanto a Full Time Hobby, que é nossa nova família, quanto a galera em volta deles está mais atenta à sonoridades e ideias do que nacionalidades. 

A parceria com os Nylon e a influência multimídia no palco
Murilo Faria: É muito difícil falar de música hoje em dia sem falar de imagem. Banda é um projeto áudio/visual. E nessa parte “visual” nós tivemos a sorte de ter os Nylon por perto, como amigos, como turma aqui de São Paulo, com os mesmos valores, afinidades, fases de vida. Levar isso para o palco é nosso próximo desafio, nunca é fácil, mas é sempre divertido. Entramos nessa pelos desafios, não pelo hype e nem pela grana (sabemos que não existe grana).

O cerceamento da arte
Murilo Faria: É de uma profunda tristeza viver sob regência de um idiota, de um homofóbico, raso e desprezível. O exterior apenas reforça o quanto o Brasil fica para trás em termos sócio-econômico-culturais a cada dia que passa, graças a uma sequência de colapsos políticos. No âmbito musical o que parecia ser algo inspirador acabou se tornando um pouco repetitivo e literal. Até porque não é só de posicionamento político que uma banda vive, mas também de violência, criatividade, pegada. E isso anda cada vez mais raro.

O novo Aldo
Murilo Faria: Em um ano muita aconteceu… as mudanças foram mais pessoais do que qualquer coisa. Nós dois evoluímos e criamos uma certeza, um espaço dentro de nós, uma busca por um som que curtimos e acreditamos e que possamos realizar no nosso estúdio. 

A estrutura no Brasil para a música
Murilo Faria: No Brasil as pessoas vão ao festival pela tirolesa, não pelo line up. Existe o sertanejo-universitário ou o funk ou gospel ou o hip-hop… não vemos outros estilos mais alternativos tendo qualquer espaço comercial. E a culpa não é das bandas alternativas, que fazem um puta som… basta sair em São Paulo, no Z Largo da Batata, na Casa do Mancha ou em qualquer festival por aqui que você vai ouvir uma galera muito foda. É uma questão cultural, de público, de business. 

Lembro quando nos recusaram para um festival porque cantávamos em inglês… o dono disse “O Brasil é a terra do povo que gosta de cantar junto…tem que ser apenas em português”. Achamos bem deprê! O cara queria apenas agradar uma média muito tosca da população, a média que veste a camiseta do Nirvana no sábado de festival e mostra a língua na selfie escrevendo “rock’n roll”… É previsível e é fácil agradar esse cara. Isso resume tudo. Querer agradar, vender, lucrar, custe o que custar… donos de festivais que não curtem ou lutam ou vivem ou se alimentam de música, com raras exceções, o lado mais pessoal, ousado, orgânico do line-up vira quase um detalhe no meio das tirolesas!

A relação música x entretenimento x mídia
Murilo Faria: Não estamos muito preocupados com o Lollapalooza ou Rock in Rio, mas sim em fazer algo relevante para quem está aberto a coisas novas. E nesse sentido existem sim veículos e pessoas que não apenas registram isso, como inspiram e escrevem sobre. Se você ouvir o podcast “Vamos Falar Sobre Música?”, por exemplo, vai ficar ar por dentro de muita coisa foda, dita por uma galera que escuta e conhece muito som.

A opção por um EP e não um disco cheio
Murilo Faria: Hoje é a época do single. O que não é tão legal quanto um disco. Nós aqui do Aldo curtimos pensar no conceito do álbum, da vibe como um todo. Por isso por mais que saiam como single, são partes de uma mesma história. Por isso pode esperar que vem um monte de coisa na mesma vibe.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.