Entrevista

Entrevista: BUFO BOREALIS

Nesse fim de semana o SESC encerra sua edição 2021 do SESC Jazz, festival que ao longo dos últimos 15 dias explorou vertentes do jazz através de nomes como Amaro Freiras, Hamilton de Holanda e tantos outros que beberam da raiz da música brasileira. Em um festival tão democrático, nomes como o da dupla Bufo Borealis agigantam ainda mais o evento, possibilitando uma imersão sonora ainda mais profunda através de seu jazz-funk-experimental.

Dono de um dos lançamentos mais intrigantes de 2020, o ótimo Pupilas Horizontais, o Bufo Borealis, que na verdade é Juninho Sangiorgio e o baterista Rodrigo Saldanha, levará para o palco um repertório que desafia as paredes do jazz e que vem sendo elogiado ao longo dos meses por diversos veículos especializados. Tudo isso com a participação de Rodrigo Carneiro e Fernanda Lira, da banda Crypta.

Antes de sua participação no festival, em um show que já nasce especial, a dupla conversou com o Passagem de Som.

A apresentação no SESC Jazz

Bufo Borealis: Nossas expectativas são as melhores. Estamos todos muito necessitados e muito carentes dessa troca de energia que acontece num show com público, e poder fazer isso num festival desse porte, em segurança e com as pessoas vacinadas é uma emoção muito grande. Sem falar na alegria e na responsabilidade que é pra gente estrear no Sesc Jazz, um festival que admiramos tanto.  

O intercâmbio musical do festival

Bufo Borealis:Esse intercâmbio de música é uma das coisas mais legais desse festival. Essa agregação é enriquecedora, nos mostra muita música fora dos padrões considerados normais dentro do estilo, mas que dialogam muito bem com o Jazz.    

A participação de Fernanda Lira, do Crypta.

Bufo Borealis:A parceria com a Fernanda nasceu quando ela topou gravar os vocais em Fênix Hesitante, faixa de abertura do nosso disco, junto com o Rodrigo Carneiro. Daí foi natural esse convite para ela participar do nosso show no Sesc Jazz. Vai ser muito legal presenciar ao vivo a Fernanda cantando com vocal limpo, totalmente diferente dos vocais guturais que ela faz na Crypta. 

A relação jazz e punk

Bufo Borealis:De maneira geral, não saberíamos dizer se essas vertentes sempre caminharam lado a lado, mas a gente sempre viu muita similaridade entre elas. Procurar aprender, respeitar e entender o outro é muito importante. Se o artista se modifica, ele pode influenciar e até mesmo modificar o entorno.      

A inclusão no jazz

Bufo Borealis: Essa inclusão é muito importante no jazz e também para além do jazz. Seria muito bom que parassem de olhar as pessoas e julgá-las conforme as regras de uma sociedade quadrada, ultrapassada e hipócrita. Mas isso parece estar longe de acontecer.

O preconceito e a intolerância, tão presentes nesse momento, não deixam as pessoas serem e viverem como elas são, como elas se sentem bem. 

A aceitação do álbum Pupilas Horizontais e o público além do pop

Bufo Borealis: Pois é, tudo isso foi uma grande surpresa pra gente. O público parece ter se identificado com o som e com a estética torta do nosso disco. Talvez por não sermos crias diretas do jazz, de termos na nossa essência o rock, o punk… não dá pra saber. Mas essa paixão pela música negra, pelo soul, pelo funk e pelo jazz, isso de também ficar ouvindo muito os discos, fez com que a gente se juntasse para fazer esse som, mesmo não sendo músicos de jazz. Essa aceitação e identificação do público pode ter vindo também daí.  

O legado da pandemia para a música

Bufo Borealis: Pelo jeito, tanto as colaborações entre os artistas quanto essa maneira de gravar à distância, sem necessariamente todos estarem no mesmo estúdio ou cidade, devem permanecer. Muitas coisas boas foram produzidas assim nesse período, e muita gente que nunca tinha considerado trabalhar desta forma acabou aderindo. 

E, sim, isso de ter o artista virtualmente e vice-versa fez com que até artistas mais reclusos enxergassem que não dá mais pra se portar como inacessíveis e que muitas colaborações e novas ideias também acontecem através dessa interação com o público, mesmo no formato virtual. 

Futuro

Bufo Borealis:Nosso principal plano agora é poder tocar mais ao vivo, mas de uma forma segura, cautelosa, que não comprometa nem a saúde de quem for nos ver tocar e nem a nossa. Com o avanço da vacinação e com alguns cuidados como o uso de máscaras, por exemplo, isso pode ser uma realidade para 2022. Ao mesmo tempo, seguimos criando, fazendo músicas novas. A música salva! 

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.