Entrevista

Entrevista DESERT CROWS

Mais que 90%, 95% do que faz um disco de rock ser bom vem da vontade de seus integrantes. Foi assim, suando sangue, que tanto nomes fizeram história. Imagine Angus Young sem aquele semblante de possuído no palco ou então Tony Iommi sem aquela gana de buscar cada vez mais peso nas suas músicas… pois então, muito mais do que técnica, a vontade sempre foi ponto fundamental na história do rock e é exatamente o que se vê em Age of Despair, álbum de estreia do Desert Crows.

Formado em Goiânia por Vitor Mercez (guitarra e vocal), Raul Martins (baixo) e Pedro Nascimento (bateria), o Desert Crows adentra o mundo da música com uma vontade assustadora. Tem um pé no punk e outro no heavy metal, mas passa longe dos clichês, soa moderno e dá forma ao tão versátil stoner rock que já consagrou tantas bandas nesse cenário. Em um disco que abusa dos – certeiros – riffs, a sensação que se tem é de que a maturidade chegou para a banda logo de cara, tamanha intensidade do disco.

Com um novo álbum e pronto para uma sequência de shows importantíssima dentro da divulgação do álbum, que – inclusive – passará por SP no mês de julho – o Desert Crows encontrou tempo para conversar com o Passagem de Som, nessa entrevista que você confere agora!

O lançamento de Age of Despair
Vitor Mercez: O lançamento do álbum foi surpreendente. Esperávamos uma resposta regional com o lançamento. Ver matérias e acessos em nossas páginas de streaming de todo o Brasil e outros países foi complicado acreditar que era verdade. 

O show de lançamento foi feito em parceria com a Monstro Discos no “Cidade Rock”, esse evento acontece uma vez por mês com objetivo de movimentar a cena underground. São 6 bandas por noite de evento sendo 3 bandas já conhecidas e 3 bandas novas. O Centro Cultural Martim Cererê estava LOTAAAAADOOOO e teve ua festa muito bonita. A plateia estava cantando alto… subindo no palco… uma conexão sem palavras. 

Goiânia como celeiro do stoner rock
Vitor Mercez: Este passado não faz pressão alguma para o Desert Crows. Nossa adolescência foi ouvindo e assistindo shows das bandas marcantes de Goiânia e fomos abraçados de uma maneira carinhosa por todos eles. Hellbenders, Overfuzz, Aurora Rules… entre outras bandas que saíram do patamar de ídolos e viraram amigos. Sempre que estamos pensando algo e precisamos de opiniões são esses os amigos que vamos atrás. 

A música pesada mais crua
Vitor Mercez: A busca por novos elementos e maneiras de se fazer música é o que torna um músico vivo, pois ele nunca fica preso a uma forma.   Ter uma mistura de elementos nas músicas é um processo natural da evolução, tanto musical quanto tecnológica. O importante é saber harmonizar para ser algo sempre sincero. Nunca artificial!

As influências
Vitor Mercez:  Gostamos tanto de clássicos como Black Sabbath e Led Zepellin, assim como a galera dos anos 90, como o Kyuss. Atualmente, pegamos umas influências um pouco diferentes para o som como Foo Fighters e, em alguns aspectos, Royal Blood. A mistura disso tudo trouxe a sonoridade do disco. 

O caos social e a música do Desert Crows
Vitor Mercez:  O caos social gera conflito não só entre pessoas, mas dilemas pessoais. São esses conflitos pessoas que nos inspiram. 

Fazer música é uma forma de contar histórias e pontos de vista, isso gera conexão entre pessoas que não se conhecem. Essas conexões serão feitas por semelhanças ou desavenças. Isso torna o fazer música uma das atividades mais desafiadora. Fazer música sempre será resistência em qualquer ponto de vista.

O disco físico
Vitor Mercez: Não vejo de outra forma, o disco atualmente é uma nostalgia. Uma atitude clássica, de colecionador ou de artista ter a sua obra concreta nas mãos. 

O stoner rock na grande mídia
Vitor Mercez: São toneladas de arte produzida todos os dias e é impossível uma cobertura completa e imparcial. É uma questão comercial, é preciso ter mercado e procura.  A internet está aí com todo conteúdo disponível, basta ter curiosidade e inciativa pra fazer a busca.

A maioria das pessoas que gostam de música pesada não tem interesse em TV, rádio ou editoriais impressos. Ambos estão perdendo espaço para meios digitais e precisam propagar uma “venda fácil”. A partir do momento que a massa tiver interesse em música mais pesada e intensa, vai ser propagada por grandes veículos.

Os grandes festivais são reflexo das grandes mídias. Atualmente, estes festivais se mostraram, mesmo que timidamente, interessados e fazer um relação com bandas underground. Não da forma ideal, mas é  primeiro passo.

A relação do público com a música underground
Vitor Mercez: Eventos underground são feitos por várias bandas e isso acaba atraindo um grupo maior de publico. Nem sempre bandas do mesmo estilo musical. A base é a união! Financeiramente é uma luta diária. Ninguém, que não tenha algum tipo relação corrupta com políticos, tem dinheiro. 

O público busca experiência e sensações. O velho formato com artista tá lá no palco e pronto?! Já era. É preciso divulgar uma experiência que traz boas sensações com performance e participação do público. Dessa forma o interesse estará instigado e mesmo que no próximo evento aquela pessoa não compareça em algum momento ela buscará a experiência prometida. É um processo baseado bons momentos.

A relação entre tecnologia e a música do Desert Crows
Vitor Mercez: Fomos inspirados pelos músicos que não tinham artifícios tecnológicos, mas não quer dizer que não podemos usar. Entendemos que são outros tempos.  A tecnologia gera novas sensações pra quem está ouvindo. Isso gera curiosidade.

Se tivermos 40 anos de artistas fazendo a mesma coisa. Qual curiosidade isso traz?! O importante é saber harmonizar para ser algo sempre sincero. Nunca artificial!

Daqui para a frente
Vitor Mercez: Temos muito material pronto pra lançar. Já temos letras novas. O álbum foi o primeiro passo. Nossos shows são enérgicos e barulhentos. Estamos inspirados com a recepção que tivemos e isso tem gerado uma fome de produção. Temos energia pra gastar e queremos conhecer pessoas e lugares novos. O palco é de todos e queremos dividir com muita gente.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.