Entrevista

Entrevista JOÃO SUPLICY

Alguns o conhecem por seu trabalho solo. Alguns outros pelo programa de TV e uma outra parte pela dupla que formou durante quase uma década com o irmão Supla, o Brothers of Brazil. Fato é que em todos os momentos o talento foi sua marca registrada. Esse é João Suplicy, que após mais de uma década retoma sua carreira solo com o ótimo álbum João, um disco… puramente João.

Dono de cinco trabalhos solo, João Suplicy sempre mergulhou de cabeça naquilo que acredita e o resultado nunca foi algo tão simples de ser definido. A paixão pela MPB, pelo rock ou pelo samba sempre foram apenas “música” na sua cabeça, e isso é o suficiente. A experiência de anos o transformou, como não poderia deixar de ser, em um artista mais maduro e em constante evolução, como pode ser conferido em João.

E é baseado nesse momento, nesse acúmulo de história e bons momentos que conversamos com o sempre inteligentíssimo João Suplicy. Um artista que fez da vida uma experiência, literalmente, multimídia.

A sensação de produzir um álbum uma década depois
João Suplicy: Eu acho que isso mudou muito a forma de divulgação e de consumo da música. Não necessariamente da produção, embora hoje em dia seja mais barato para você produzir e gravar um disco. Agora, nesse tempo todo que passou, ocorreu também uma mudança grande em mim. Eu não sou o mesmo que era há dez anos. Obviamente o trabalho com o “Brothers Of Brazil” tem um peso muito grande nisso, principalmente pelos lugares que tocamos. Fizemos turnês longas, principalmente fora do país. Além de grandes festivais, a gente fazia, por exemplo, 30, 40 dias seguidos de show toda noite, tocando principalmente em circuitos mais “rockeiros” e isso acabou ficando impregnado em mim.

Eu acho que talvez os meus trabalhos solo anteriores fossem mais facilmente classificados como “MPB”, esse novo eu não sei. Ele tem MPB também, mas tem Rock, é Pop também. Não sei, mas de fato, nesse período eu adquiri muita autoconfiança, mais do que tinha antes, inclusive no que se refere à produção do CD. Tanto que nesse álbum eu realmente acabei assumindo a produção da maioria das faixas, assim como uma parte dos instrumentos, que é uma coisa que eu passei a fazer bastante nos CDs do Brothers. Tirando a bateria que meu irmão tocava sempre, e além do violão e guitarra, que são meus principais instrumentos, quando tinha alguma coisa de baixo ou teclado, ou piano, ou de harmonias vocais para fazer, sempre eu que fazia. E então eu trouxe isso pro meu próprio álbum. Mas, sendo ele meu próprio álbum, eu passei a ser responsável por todas as decisões, diferentemente do trabalho com o Brothers, onde era tudo compartilhado entre nós dois. Foi uma experiência muito legal nesse sentido de autonomia e também de chamar a responsabilidade pra si, de ter o controle e a responsabilidade toda do trabalho, de fazer do jeito que eu queria. E como tem muito a minha mão em tudo, realmente ficou um CD muito com a minha cara.

Identidade musical
João Suplicy: Isso de transitar por vários estilos, na verdade, pra mim, é muito natural, porque a minha identidade é múltipla, misturada, o Brasil também o é, e eu cresci assim. Mas claro que houve períodos em que eu mergulhava num determinado estilo ou num determinado artista. Tive épocas de, por exemplo, mergulhar no universo do João Bosco, ficar vidrado naquele violão, estudar aquele violão, assim como tive outros períodos de fazer o mesmo com Jimi Hendrix, e tantos outros. Na hora de compor a própria criação se impõe. Ela vem puxando dentro da bagagem que eu tenho as ferramentas pra eu criar. Então pode nascer daí um blues, um samba, um samba blues, um baião com um rock junto…  Na verdade eu não me preocupo com isso, não me prendo a isso, até me recuso a me enquadrar nisso. Às vezes é uma cobrança do mercado você ter que ser uma coisa definida. Porque você é um produto, você vai ser vendido, as pessoas precisam saber. Precisa ter uma embalagem na caixinha dizendo o que você é. E eu sou o João. E o João é isso, a minha verdade é essa.

A relação da música com o público
João Suplicy: Olha, sobre em qual prateleira de discos eu me colocaria… Não sei. Talvez Pop, talvez MPB, talvez Rock ou… Não quero soar pretensioso, mas, prateleira “João” (risos). Eu acho que, principalmente com a velocidade das coisas hoje, com a pressa das pessoas, o pouco tempo que elas têm acaba afetando de certa maneira a arte em geral. As pessoas têm menos tempo pra prestar atenção numa coisa mais contemplativa ou que seja menos imediata, que te ”pegue de cara”.  Acho que isso acaba favorecendo o consumo de coisas mais “superficiais”.

Não necessariamente no mal sentido, mas coisas mais “imediatas”, eu diria. Eu acho que, para chegar num público, você precisa ser direto, simples; mas é um desafio você conseguir ser direto e simples sem ser superficial, no mau sentido. Acho que isso é uma busca pra um artista nos dias de hoje: conseguir alcançar o ouvinte de maneira que o cative rapidamente, mas ao mesmo tempo não ser superficial.

A função dos grandes canais de rádio e TV na atualidade
João Suplicy: Acho que a TV e o rádio ainda têm muita força. No caso da TV, tem a Globo, obviamente, e no rádio, várias (emissoras de rádio). A própria Globo, embora tenha muito poder, não é mais o que era. A internet está realmente ocupando esse espaço de divulgação de artistas, o que eu acho muito bom. Eu acho que democratiza mais, dá espaço pra movimentos e manifestações artísticas de maneira geral serem divulgados e atingirem as pessoas. É uma coisa que está acessível praticamente a todos hoje em dia. Nesse sentido, acho muito bom o advento da internet, do Youtube, Facebook… Tirou um pouco desse domínio completo da TV e as rádios, apesar disso, ainda tem uma importância grande. A divulgação de uma música na rádio ou numa novela da Globo, do SBT, da Record, por exemplo, tem bastante força, mas ainda tem essas outras alternativas pela internet, o que eu acho muito positivo.

O novo álbum sendo levado ao palco e a produção do programa “Violão ao vivo do quarto
João Suplicy: Tenho feito o show com um trio, formado por dois músicos talentosos e polivalentes. O João Moreira toca baixo, Moog e canta, enquanto o Danilo Moura toca percussão, bateria, Pad e também canta. Isso possibilita criar vários climas e atmosferas diferentes durante o show e tem funcionado bem, tanto em lugares intimistas e pequenos como em lugares abertos, como o show que fizemos no palco do SESI, na Avenida Paulista num domingo. A internet é a nova ferramenta de divulgação do trabalho do artista. Logo mais o “Violão ao vivo do quarto” vai completar dois anos, rolando toda segunda às 20h30 na minha página do Facebook e foi fundamental para eu criar uma relação direta com meu público, assim como amplia-lo. Às vezes ainda é engraçada a sensação de se apresentar para uma plateia que está ali, interagindo com você por mensagens, mas não de corpo presente.

A experiência com o Brothers of Brazil
João Suplicy: A experiência que tive com o Brothers of Brazil foi muito rica e considero fundamental na formação do artista que sou hoje. No momento estou totalmente voltado pra o meu trabalho solo e divulgando o meu novo álbum “João”.

Os fenômenos virtuais e a carreira na música
João Suplicy: Acho que viver de música nunca foi fácil. Acredito que hoje tenha ficado mais viável o artista que não tem espaço na mídia tradicional criar seu público através dos meios da internet. Temos vários exemplos de artistas que surgiram assim nos últimos anos.

Experiência acumulada e um novo momento
João Suplicy: Nesse momento estou muito feliz de ter retomado meu trabalho solo, após quase 8 anos dedicados ao Brothers of Brazil e cada vez mais tenho certeza de que fiz a coisa certa, por mais que tenha sido bem difícil no início. Não é fácil largar algo já consolidado para começar uma outra coisa de novo, mas agradeço às pessoas que me ajudaram a ter coragem de tomar essa decisão, que provavelmente foi a mais difícil e mais importante que já tomei na minha carreira.

Futuro
João Suplicy: Dia 30 de setembro estreio uma temporada com a Bigband Na Gaveta no Bar Brahma, que vai rolar uma vez por mês. Já fizemos esse show em Recife e foi demais. Espero ainda fazer muitas apresentações com esse formato.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.