Entrevista

Entrevista JONAVO

Talvez você não conheça Jonavo imediatamente por seu nome, mas certamente já passou (e curtiu) muita coisa feita por esse jovem artista, que vem sendo um dos pilares do momento mais expressivo que o folk vive no Brasil desde seu surgimento. Responsável pelo projeto Folk Na Kombi, o cantor e compositor campo-grandense Jonavo vem se destacando na cena cultural paulistana através de seu envolvimento, fomentando a música Folk.

Casulo, disco que foi produzido pelo baterista e produtor Wlajones Carvalho no Estúdio Pacote, conta com dez canções e é um deleite para os amantes do gênero. Flerta com a raiz do gênero, o sertanejo, e traz em seu line up um time de encher os olhos (e ouvidos),  Renato Teixeira, Corcel, Lauro Pirata e sua irmã, Maria Eugênia, dão forma ao trabalho lançado em 2018.

E em um momento onde a composição se faz tão necessária, Jonavo mostra sua música e se insere em um contexto que ainda é novo para o público, mas exala experiência.

O Passagem de Som conversou Jonavo sobre todo esse momento e o que cercou Casulo, sua grande realização em 2018.

O atual momento do folk mundial e a identidade musical
Jonavo: Na verdade a minha vinda pra São Paulo em 2011 é que foi determinante pra me identificar no mapa. Não existia um lugar pra mim e eu enxerguei um campo muito vazio, com páginas em branco na história do folk brasileiro. O que eu fiz foi ir atrás dessa galera, me juntar a pessoas… É um clássico da vida artística encontrar na dificuldade uma grande virtude.

Sobre o novo folk, considero uma tendência o minimalismo e a desglamourização do artista. As superproduções, talvez pela “crise mundial”, estão fora de moda. Hoje um cara como o Ed Sheeran faz turnês 100% lotadas apenas com seu violão. Eu me identifico com isso.

As parcerias com Corcel e Renato Teixeira no novo álbum
Jonavo: Acho que o folk é um primo do sertanejo e primo do rock. Ele pega o melhor das duas vertentes, uma mistura do campo com a cidade muito encontrada na música da minha região. Acho que as parcerias desse disco mostram o que já é com o Renato e o que virá com a Corcel.

O disco físico
Jonavo: O disco físico é um registro plástico, um cuidado com a obra. Eu sou romântico em relação a isso. Quero ver uma ficha técnica, conferir as letras direto da fonte do artista, ver um projeto gráfico complementar do artista. Por isso eu fiz o físico e lancei antes do digital. Pra ele ter essa relevância.

A relação entre tecnologia e o folk
Jonavo: Eu não sou apegado à forma orgânica com que o folk clássico é representado. Tenho misturas de eletrônico e hip hop no meu disco. Tenho passagens pelo pop, pelo rock e pelo clássico. Eu não gosto de tocar no ritmo do trenzinho sempre. No fundo eu sou um roqueiro de classe média baixa.

O valor do folk nacional
Jonavo: Eu não sou politicamente engajado e não acho que se deva ser de um lado ou de outro da Faixa de Gaza. Mas eu sou patriota pra cacete. Acho que a nossa língua e a nossa cultura são sagradas e eu defendo o folk legitimamente brasileiro, pois acho que Zé Ramalho não deve um tostão pro Bob Dylan e o Renato Teixeira é do mesmo tamanho que Cat Stevens. A diferença mais louca é que a gente mistura esse folk mundial com ritmos nordestinos, caipiras e fronteiriços. O Brasil é talvez mais rico do que qualquer um em música folk.

O folk em tempos de polarização
Jonavo: É delicado e não é. Eu não acho que a música deve ser sempre levada tão a sério. A música é escapismo, é amor, paixão, poesia, cotidiano, irreverência. Eu tenho uma música no disco que tem o viés social, que é 180 fios, mas não acho legal ficar falando só disso. Tá todo mundo muito careta hoje em dia, uns julgando os outros na internet. Tô fora dessa ciranda.

A importância do projeto Folk na Kombi e a difusão do folk
Jonavo: Eu acho ótimo fazer parte de algo que está tendo relevância e tirando as pessoas de casa. Eu andei fazendo umas contas e fiz mais de 250 shows nos últimos dois anos. Sabe o que isso significa? Significa que nós não ficamos reclamando no Facebook, a gente encontrou pessoas de verdade, encaramos a falta de grana, de estrutura e de condições adversas. A galera do folk está de parabéns. E eu queria conhecer os caras do “Que Se Folk”, pois sou fã do trabalho deles. Eu frequento as baladas, mas nunca conheci quem faz.

A conexão do folk nacional entre passado e presente
Jonavo: As gerações tem que se conectar. Quando o Chico, Caetano conheceram o Tom Jobim e o Vinicius eles se entenderam. Quando os Novos Baianos encontraram com o João Gilberto saca? Nós encontramos Renato Teixeira, Zé Geraldo e Almir Sater. Os caras se enxergam na gente e nós neles. Isso é um dever que temos uns com os outros.

O futuro
Jonavo: Eu vou viajar bastante. Seja de ônibus leito ou comercial. Vou continuar sem esperar que caia um empresário milionário sobre a minha cabeça. Mangas arregaçadas pra oferecer o que eu tenho de melhor em mim, a minha arte.

About the author

Avatar

Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.