Fazer heavy metal no Brasil é coisa de verdadeiros guerreiros. Não é fácil. Poucos veículos especializados, tendências musicais questionáveis, um verdadeiro underground… mas e daí? Não é de hoje que o heavy metal em todas as suas vertentes aprendeu a sobreviver das próprias pernas e construir grandes histórias. A dos cariocas do Lacerated and Carbonized é uma delas e já soma quase 15 anos, uma base sólida de fãs e oportunidades que seguem levando o death metal do grupo carioca a novas audiências.
Formado por Jonathan Cruz (vocal), Caio Mendonça (guitarra), Paulo Doc (baixo) e Victor Mendonça (bateria), o Lacerated and Carbonized se apresentará nessa sexta-feira (8) ao lado do Ektomorf, banda húngara que vem ao Brasil pela primeira vez na carreira. Oportunidade para os fãs conferirem uma música pesada, mas que busca elementos completamente diferentes e só evidenciam o quanto o gênero é muito mais que peso e agressividade.
O Passagem de Som teve a chance de conversar com o baixista Paulo Doc, que contou mais sobre a expectativa da banda pelo show com o Ektomorf e sobre como a banda segue trilhando sua estrada e emergindo como um dos muitos bons nomes da cena extrema nacional.
A expectativa de tocar com o Ektomorf
Paulo
Doc: As expectativas para esse show são as melhores possíveis! O
Ektomorf é uma banda com um ótimo background no cenário europeu e é a
primeira vez que os caras vêm ao Brasil. Como são de um estilo diferente
do nosso, sabemos que é uma ótima oportunidade para ambas de mostrar o
som para um público diferente do usual. Eles estão empolgados e nós
também.
A importância do SESC para a apresentação e o circuito para shows de metal extremo
Paulo
Doc: O SESC de forma geral tem uma estrutura diferenciada, o nível de
profissionalismo é realmente impressionante. Além disso, sabemos que
eles se preocupam em proporcionar uma boa experiência para o público que
comparece, inclusive em termos de acessibilidade, o que é muito
importante. Já tocamos em outras unidades e foi sempre excelente.
Sobre o circuito em geral, há produtores em diversas cidades do país que desenvolvem um grande trabalho também e esses merecem todo o destaque e admiração. Há muitos amadores no circuito, é verdade, mas se comparado a uma década atrás, por exemplo, a evolução é notória. As velhas figurinhas que não sabem trabalhar aos poucos vão saindo de cena.
O atual momento da música extrema
Paulo
Doc: O Brasil é um dos maiores celeiros do underground extremo mundial e
está sempre se renovando com nomes excelentes que surgem com muita
consistência. Nesse contexto, creio que o público foi acompanhando nossa
evolução ao longo dos três álbuns e sempre buscamos continuar com
progresso da mesma forma: produzindo material e fazendo tours.
Quando estamos em tour podemos constatar que nossas bandas não deixam nada a dever para os gringos, muito pelo contrário. Disso o banger brasileiro pode e deve se orgulhar. Bandas como Krisiun, Rebaelliun e o Sarcófago, um pouco mais atrás, abriram os olhos do mundo para o metal extremo que se faz aqui. Não há quem não nos respeite lá fora.
O Brasil se tornou um verdadeiro selo de qualidade para a música extrema mundial. Assim é também com a Polônia, por exemplo. Nossas grandes referências, embora tenham todo esse tempo de estrada, ainda têm muita lenha pra queimar. Basta ver o altíssimo nível de seus últimos trampos. Vejo nomes como Nervosa e Torture Squad, entre outros, em franca ascensão. Do jeito que as coisas são dinâmicas, não tenha dúvidas de que daqui a dez anos outras bandas também chegarão com força.
A realidade e a música do Lacerated and Carbonized
Paulo
Doc: Mais do que mexer conosco, a brutalidade do nosso cotidiano define
nosso som e nossa proposta como um todo. Não há como fugir disso
morando em uma cidade como o Rio de Janeiro, em que sofrer violência é
inevitável e o Estado é cúmplice desse caos. É como sempre falamos: com
todo respeito, toda essa fantasia gore e abstrata da maioria das bandas
de Death Metal não se compara minimamente ao pesadelo que é viver aqui e
é disso que alimentamos nossa arte.
O disco físico
Paulo
Doc: O material físico jamais deixará de ter sua importância, ainda que
as plataformas de streaming sejam absolutamente dominantes nos dias de
hoje. Particularmente, vejo esse movimento como positivo para a cena
underground, já que o acesso ao material de qualquer banda é muito
fácil. Se você tem qualidade e sabe trabalhar sua carreira de forma
correta, o streaming passa a ser seu maior aliado. É claro que os
grandes nomes vão continuar lamentando a morte da indústria como um dia
conhecemos, já que construíram sua fortuna também com a venda de discos,
mas não há como brigar com a realidade. Ou você se adapta ou se torna
irrelevante.
A música extrema em tempos de conservadorismo
Paulo
Doc: Censura por si só é e sempre será deplorável, mas é interessante
notar que todas as tentativas de calar a arte de forma geral acabam
gerando ainda mais exposição. O metal é um movimento contra cultural por
essência, então continuaremos por aí colocando o dedo na ferida e
destruindo tudo, independentemente do establishment político da vez.
Futuro
Paulo Doc: Já estamos em processo de pré-produção do nosso novo trabalho, que deve sair ainda esse ano, e aí vamos para a estrada, nosso habitat natural. Espere ver o Lacerated nos fests nacionais e gringos!