Entrevista

Entrevista: LEI DI DAI

Rainha do Dancehall brasileiro, Lei Di Dai não é uma aposta. Longe disso. Figura certa em alguns dos mais expressivos festivais do mundo, a paulistana vem levando a bandeira do Brasil mundo afora ao lado das maiores lendas do reggae, dando sequência a um trabalho iniciado há quase duas décadas.

Vertente considerada a mais dançante da música jamaicana, o Dancehall agrega elementos que vão hip hop aos beats eletrônicos, sempre carregando uma mensagem de positividade e engajamento, marcas registradas da carreira de Lei Di Dai.

Depois de uma turnê que passou por vários países europeus, Lai Di Dai voltou. E conversou com o Passagem de Som em uma belíssima entrevista!

Lei Di Dai hoje

Lei Di Dai: Estou investindo e tendo um bom retorno na minha carreira internacional desde de 2009, porém nos últimos 5 anos minhas músicas estão tocando nas rádios na Inglaterra, Alemanha, França e Áustria. Isso me fortalece como artista na cena reggae mundial e me traz oportunidades de cantar em diferentes festas, baladas e festivais importantes.

Na real, estou construindo meu futuro musical porque o Brasil é cruel quando você envelhece e na Europa se valoriza a música, não só a estética.

A alcunha de Rainha do Dancehall e a influência da música brasileira na identidade musical

Lei Di Dai: Ser considerada a Rainha do Dancehall brasileiro me fez acreditar em mim e correr atrás do meus sonhos. O Brasil está atrasado em vários aspectos e mais ainda na música.

Minha necessidade de sair do país todos os anos e passar grandes períodos fora daqui é gigantesca! Lá fora qualquer pessoa que me pergunta qual tipo de música canto e respondo Dancehall respondem automaticamente “I love dancehall” e reconhecem o estilo musical. No Brasil, tenho que explicar ” tim tim por tim tim ” pra entenderem e sempre reconhecem mais as cantoras pop que estão fazendo esse tipo de música mas não assumem abertamente.

O dancehall é o pai do Hip Hop, mas nem a galera do rap hoje está ligada nisso, o Brasil é um país de apropriação cultural e distorção de ideias e movimentos…

O contato com verdadeiras lendas do Dancehall mundial

Lei Di Dai: Estive em um festival com Sister Nancy, Kevin 373, Sleep Time Ghost, Solo Banton, YT, Jam Jah sound, Morell Sound System, Yellowman, Digital Dubs, Manu Digital… Foram tantos talentos que encontrei nessa turnê!

O meu ponto alto foi conseguir estar em line ups com artistas que gosto e admiro, mas ainda mais feliz por eles saberem que eu faço parte da cultura Reggae Dancehall e fortaleço o movimento com muito amor e respeito!

Sobre nomes fundamentais para minha formação musical, primeiramente elejo meu pai Roberto Kbeça, que me apresentou a reggae music. Tomando gosto pela música caribenha me vi fascinada.

Em seguida, Shabba Ranks, Shaggy, Patra, Cutty Ranks, Mad Cobra, Raking Joe, Donavan King, Barrigton Levy, Lone Range, artistas que ouvi muito nos anos 90, na minha adolescência, e que me inspiram até hoje!

A força da mulher no Dancehall

Lei Di Dai: Tenho orgulho de dizer que ajudo e movimento a cena Dancehall reggae no Brasil e que reverbera pelo mundo a fora! Fico muito feliz de completar 14 anos cantando reggae e compondo musicas de coração limpo sem apelar, abrindo portas para nova geração chegar.

Tenho meu sound system “Gueto pro Gueto sistema de som”, que esse ano completa 7 anos de existência e é o primeiro Sound liderados por mulheres pretas.

Porém, vejo muitos discursos de outras manas dizendo ser pioneiras e às vezes vejo mais competição entre as mulheres do que com os homens. Acho que as mulheres não precisam desmerecer as outras pra existir em um movimento, precisamos de união pra ter mais mulheres nos line ups de festivais e festas.

A participação no coletivo feminista GRRRL

Lei Di Dai: GRRRL é a união de mulheres do 3° mundo que fazem músicas, que transformam a vida das pessoas com suas mensagens. Tenho muito orgulho de participar desse projeto por 4 anos seguidos e ver como é importante valorizar as mulheres da área musical como cantoras, DJs, produtoras, manager, diretoras musicais, engenheiras de som, é isso que o IPOW faz valoriza a mão de obra feminina!

Autonomia

Lei Di Dai: Canto há quase 20 anos, porém profissionalmente canto desde 2005, que foi quando realmente isso virou meu ganha pão! Ano que vem comemoro 15 anos de Lei Di Dai com muita alegria e hoje vejo a classe artística é cercada de modismo e regras chulas, mas meu papel como artista é continuar seguindo minha “LEI”, sem medo!

Por isso, tenho meu selo musical “Rainha da Lata”, que me ajudou a não depender de nenhuma gravadora que possa manipular ou transformar meu trabalho em algo que não está no meu princípio. Sigo dançando e compondo livremente e que venha mais 20 anos.

O Dancehall no circuito

Lei Di Dai: A música é livre! É assim que os grandes festivais internacionais criam seus line ups! Trazendo boa musica indiferente de gênero. Porém, no Brasil ainda há panelinhas e indicações por marcas e patrocinadores; e, às vezes, a qualidade da atração deixa a desejar.

As vertentes vindas da periferias não são aceitas por questão de preconceito de classes e não por gênero musical, quem tem a voz mais alta é que tem grana pra investir na divulgação da música, que nem sempre caminha com qualidade e conteúdo bacana, sendo só mais um hit de verão.

Engajamento

Lei Di Dai: Faço um som que fala a real, conforta meu coração e das outras pessoas… quero falar sobre fé em si mesmo! É disso que precisamos para manter o equilíbrio, sempre fazer tudo com amor!

Minha nova turnê “Believe U” é sobre isso, acreditar no seu próprio talento! A cena atual dancehall é inovadora e não tem regras, fazemos o que temos vontade. Gosto de tudo que a música jamaicana criou e inspirou, e cito aí, além do Dancehall, Reggae, Dub, Dubstep, Rub a Dub, Ska, Jungle, Drum and Bass, Hip Hop e a música eletrônica em geral, e claro, o Afro Beat. Também valorizo muito a cultura Bass!

Lei Di Dai hoje

Lei Di Dai: Quando decidi cantar dancehall foi pra me libertar e trazer boas vibrações para as pessoas que ouvem e gostam da minha música.

Construir uma carreira sólida no mundo do dancehall está sendo uma conquista maravilhosa porque todos esses anos conseguir viver de música, cantar em 10 países diferentes e voltar todo ano pra fazer turnê em lugares maravilhosos, é um sonho realizado! Em cada apresentação eu sinto o carinho e admiração das pessoas pelo mundo. A importância do protagonismo de uma preta na música é muito forte pra continuação da cena no Brasil. Eu como artista de Dancehall sinto que hoje existo no cenário mundial, as turnês internacionais me deram essa oportunidade ter ao lado artistas jamaicanos e isso é uma honra!

2020

Lei Di Dai: Depois do incrível verão europeu, voltei com toda boa vibe para o Brasil para iniciar a turnê “Believe U” aqui com minha banda de apoio e fazer bastante sound system pela cidade com “Gueto pro gueto sistema de som”.

Também houve o lançamento de minhas piteiras de vidro personalizadas, uma parceria com a Orange House. E além disso tudo tenho videoclipe novo para ser lançado e singles novos que gravei em Londres e Berlin.

Jah bless!!!

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.