Entrevista Sala Especial

Entrevista LOCANDA DELLE FATE

Pink Floyd, Yes, ELP, Kng Crimson… ícones do rock progressivo, os grupos citados conseguiram escrever seu nome de forma definitiva no gênero muito mais pela coragem do que propriamente pela técnica. Capazes de transitar por um gênero com uma assinatura muito única, os grandes ícones do rock progressivo inspiraram e fizeram nascer cenas específicas muito intrigantes para os fãs do gênero. A principal delas com certeza foi a italiana, que revelou bandas como Premiata Forneria Marconi, Le Orme e o grande Locanda delle Fate, que veio ao Brasil em sua turnê de despedida.

Celebrando quatro décadas de seu mais emblemático lançamento, o espetacular “Forse le lucciole non si amano più”, o Locanda delle Fate foi talvez o último nome a subir no trem que consagrou uma cena que até hoje inspira novas bandas italianas a se enveredar por uma vertente tão alheia ao universo pop. Com diversas mudanças em seu line up, o grupo italiano conta hoje com Leonardo Sasso (Voz), Luciano Boero (baixo), Max Brignolo (Guitarra), Giorgio Gardino (Bateria), Maurizio Muha (Piano, teclados e moog) e Oscar Mazzoglio (Teclados) em seu line up, que – acredite – veio ao Brasil realizar um sonho e escrever seu último capítulo.

E amparado por toda essa história e belíssimo legado, o Passagem de Som conversou com o baixista Luciano Boero sobre a vinda da banda ao Brasil e tudo o que cerca seu passado, presente e futuro em uma grande entrevista!

A vinda do Locanda delle Fate ao Brasil
Luciano Boero: A chance de realizar um show no Brasil é coroar um sonho que tínhamos. Nós sabíamos que tínhamos alguma popularidade na América do Sul e com fãs muito calorosos. Experimentamos um pouco disso durante a nossa participação no BajaProg 2014 e agora estamos ainda mais entusiasmados de repetir essa experiência!

NR: BajaProg é um festival mexicano dedicado ao rock progressivo

A tradição do rock progressivo italiano
Luciano Boero: Quando você faz uma boa música, em qualquer lugar do mundo, você vai muito além de nacionalidade ou momento. Todas as bandas italianas históricas foram influenciadas por lendas como King Crimson, ELP, Genesis… são tantas… mas o importante é que cada uma delas conseguiu criar sua própria assinatura e trilhar um caminho original.

A força da música pop dos anos 80 na contramão do rock progressivo
Luciano Boero: Tanto na música pop como o rock progressivo houveram caminhos diferentes. Por um lado todas as gerações tendem superar os mitos de uma geração anterior, era o que acontecia conosco; por outro a questão da música como um empreendimento sempre teve como objetivo criar novos fenômenos em uma busca constante por ganhos financeiros, independentemente de ser realmente válido o ponto de vista de quem está investindo.

O novo rock progressivo
Luciano Boero: Existe nesse momento um grande florescimento de bandas de rock progressivo na Itália e muitos outros países. São bandas que inspiradas nos grandes clássicos do passado e dando uma continuação natural ao gênero. Falam muito do Radiohead, em algumas passagens eles realmente lembram o rock progressivo da década de 70, mas em essência são um bom pop rock.

A gravação do álbum The Missing Fireflies, de 2011
Luciano Boero: Na construção do álbum The Missing Fireflies nós temos recriar toda as atmosferas vintage de nosso primeiro disco, Forse le lucciole non si amano più, que foi lançado em 1977. Isso significou trabalhar com Hammond C3, Mellotron M400, piano acústico… as novas tecnologias, por um lado, podem ajudar a criar um bom som, mas por outro podem comprimir a criatividade.

Explicando melhor… uma vez que as músicas foram criadas com todos juntos, fechados na sal de testes buscando um bom som, havia vida. Assim depois íamos ao estúdio e gravávamos. Todo músico interagiu com o outro, adequando o seu próprio tempo. Agora você pode fazer tudo da sua casa, mas isso pode acabar resultando em uma perda de homogeneidade, deixando a música artificial.

A distribuição de música na década de 70 e hoje
Luciano Boero: Penso hoje que, uma das razões que levam um grupo a criar sua própria história é, sobretudo, satisfazer seu instinto criativo, independentemente de haver um retorno rápido. A diferença em relação ao passado é que, uma vez que você fizesse um disco, sempre haveria uma gravadora atrás de você, que na sequência do lançamento investiria dinheiro para divulgar seu trabalho e vender ele ao redor do mundo. Hoje você pode fazer isso em casa, o problema é fazer ele chegar ao seu público da melhor forma.

Música e intolerância
Luciano Boero: Acredito que é necessário um cuidado especial para fazer música porque ela também tem essa tendência de amplificar as coisas. E o papel da música é unir as pessoas.

Momentos inesquecíveis
Luciano Boero: Produzir um álbum que ainda hoje é reconhecido como um dos grandes momentos do rock progressivo é algo que nos enche de orgulho. Outra coisa vem do fato de que, desde 2010, nós estamos passando por países importantes como Japão, México, França e Bélgica e conhecendo lugares incríveis, assim como pessoas que estão empolgadas em nos ver ao vivo pela primeira vez em suas vidas!

Estou muito satisfeito com tudo o que está acontecendo em nossa vida. Essa é nossa turnê de despedida e temos a sensação de entrar de novo no porto depois de uma longa e fascinante jornada. Quando tudo isso acabar quero continuar aqui e ali com alguma banda, por que não? Após essa turnê meus companheiros também vão seguir fazendo música, provavelmente experimentando algo novo. Ainda estaremos juntos… então quem sabe?

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.