Entrevista

Entrevista LUCAS SANTTANA

Existe um grupo seleto de artistas no mundo da música que são reconhecidos simplesmente pelo fato de trazerem aquilo que chamamos informalmente de “fino da bossa”, ou aquele bom gosto que resulta em álbuns bastante elogiados e que trazem, além de belíssimas melodias, letras de conteúdo e a certeza de que a arte é levada a um patamar ainda mais alto. É assim com Lucas Santtana.

Cantor, compositor e instrumentista, o baiano Lucas Santtana já pode ser considerado um veterano. São quase duas décadas de carreira e um trabalho que transita pelas mais diversas mídias, mas que tem atualmente foco no bom Modo Avião, seu sétimo disco e que dá forma ao seu atual show, que foi apresentado em São Paulo recentemente.

Entre o folk e o pop, o rock e a MPB, a música de Lucas Santtana é simplesmente música. E de mais alto nível. E aproveitando sua passagem por São Paulo tivemos a chance de conversar com esse grande artista, daqueles que todo mundo deveria apertar o play ao menos uma vez para ter certeza de estar diante de boa música.

A turnê do álbum Modo Avião
Lucas Santtana: T​em sido ótimo realizar essa turnê, assim como retornar a São Paulo com ele. Parte da história do disco se passa aqui, então é especial fazê-lo na cidade, ainda mais num teatro tão lindo como o Auditório do Ibirapuera.

O show é uma coisa que sempre vai mudando a medida que a gente vai fazendo. E isso é fundamental para que não irmos para um lugar automático de repetição. Não sei dizer se chegamos ao ápice do disco, mas chegamos num lugar ótimo e estaremos sempre mudando, mexendo, curtindo.​

A iniciativa privada e seu papel na cultura atual
Lucas Santtana: ​Acho que a incitativa privada investe muito pouco em cultura no Brasil. E quando investe sempre teve aquele desvio de patrocinar mega eventos que não precisariam de renúncia fiscal. Mas vejo que o MinC atual, que vem tentando uma atuação mais técnica dentro de um governo golpista tem tentado consertar esses erros​.

​Sim, o projeto da Natura é incrível e tem sido super importante para o desenvolvimento da moderna música que se faz no Brasil já há alguns anos.​

O acesso à música e a vontade de viver de música
Lucas Santtana: ​Olha, vivo exclusivamente de música há 20 anos. Vi todas essas mudanças acontecerem e é impressionante como​ é​ sempre no mundo da música que as mudanças acontecem primeiro. Sinal de que ela é muito importante na vida das pessoas.

O que posso dizer é que além dos meus shows, eu faço trilhas de cinema, teatro, dança, produzo disco de outros artistas, dou palestras, faço curadoria de festivais, faço direção musical de projetos, enfim, é importante ser versátil para viver só de música.

​​Acho que o suporte musical e tudo que está ao redor do mundo da música sempre influenciou e sempre irá influenciar a criação artística, e acho isso positivo também desde quando você não vire totalmente refém das tendências.​

A música como um instrumento multimídia
Lucas Santtana: Sim, a música se tornou multimídia e já tem tempo isso. Meu filho uma vez me falou a seguinte frase: “pai, escutei aquela banda que você me falou no YouTube, mas não tinha imagem, só uma foto parada”.​ ​Acho que não preciso dizer mais nada né?

As possibilidade de pensar um show com tantos recursos
Lucas Santtana: ​Depende do que se objetiva com o show. Acho a luz uma coisa super importante, ela intensifica muito os momentos musicais num show, mas acho que a música é o mais importante, tanto é que várias bandas fazem um puta show num palco pequeno e com um fundo preto apenas. Agora, quando pensamos em shows como o do Daft Punk temos um outro pensamento. É um show em grande escala, onde todo o resto é tão importante quanto a música.

A relação do público e o aspecto intimista da música
Lucas Santtana: ​Meu trabalho é muito diverso, faço três shows diferentes no momento e cada um deles propõe um estado diferente junto com o público. O que tento é sempre convidar o público para dividir esses momentos comigo.​

O papel da música em tempos de intolerância
Lucas Santtana: ​A música é fundamental em períodos como esse. Não só a música, não só a música pop, mas de todo mundo que trabalha com cultura. Acho lamentável o silêncio de muitos artistas em relação ao momento extremamente delicado que estamos vivendo. Prefiro que o cara se posicione de direita ou de esquerda, ou de centro, enfim, mas o silêncio é horrível. A cultura tem um papel fundamental nesses momentos de repressão, justamente porque ela liberta e educa.​

O fim da MTV e a importância na vida dos grandes artistas
Lucas Santtana: O fato é que esses canais perderam força para o serviços de streaming e para o YouTube, mas todos os veículos são fundamentais para os artistas.

A construção de um repertório
Lucas Santtana: Sempre difícil (risos), bem difícil! No shows de voz e violão que estou sozinho ajuda, pois em cada show eu mudo o repertório e toco o que as pessoas pedem também. Não é algo que possa ser confundido com pressão, é um prazer ter sempre a participação do público na carreira. Um artista sem quem o ouça não existe.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.