Entrevista

Entrevista NEAL MORSE

Multi-instrumentista, um dos principais nomes da história do rock progressivo e pronto para vir ao Brasil. Assim pode ser definido Neal Morse, que no próximo dia 18 de junho trará a São Paulo a turnê de divulgação do álbum The Similitude of a Dream, disco que foi concebido com base no livro O Peregrino, de John Bunyan.Com um currículo que inclui projetos de grande impacto nos últimos anos como o Transatlantic, Morse Portnoy George e o Flying Colors, Neal Morse também foi responsável pela construção do legado do grupo Spock´s Beard na década de 90, com quem lançou seis álbuns, além de uma carreira solo expressiva, que já conta com dois discos que lhe rendem até hoje uma avalanche de elogios mundo afora. A versatilidade, a serenidade e tudo o que envolve a nova vinda de Neal Morse ao Brasil podem ser conferidos em uma ótima entrevista que o músico americano, hoje vivendo em Nashville, concedeu ao Passagem de Som.

A passagem pelo Brasil
Neal Morse: Espero que a banda arrase e o público seja maravilhoso… e que a comida seja ótima! Estou muito empolgado. A última vez que fui para o Brasil foi tocando com a banda Transatlantic em São Paulo e foi ótimo. Brasileiros, venham nos ver em São Paulo, vai ser demais e teremos algumas surpresas para vocês!

The Neal Morse Band
Neal Morse: Temos Randy George no baixo, que também é um multi-instrumentista fenomenal e a espinha dorsal da banda, pois ele cuida de várias coisas de negócios para nós, é muito bom. Mike Portnoy é um baterista maravilhoso e grande amigo, é um grade prazer tocar com ele. Billy Hubauer é nosso vocalista e tecladista, mas ele também toca todos os instrumentos e canta muito bem com sua voz aguda, além de ser um ótimo compositor. Por último temos Eric Gillete na guitarra, que também é fenomenal e entrou na banda junto com Billy nas audições que fiz em 2012.

O álbum Similitude of a Dream
Neal Morse: Um dia eu acordei inspirado e fui para o estúdio para compor. Senti que precisava de um norte, então me lembrei que há um tempo alguém sugeriu, via Facebook ou e-mail, que eu fizesse um disco conceitual sobre um livro antigo chamado Pilgrims Progress. Isso ficou na minha cabeça, mas o único problema é que eu não tinha nem nunca havia lido o livro (risos). Então, procurei no Google e li o resumo da história e comecei a escrever algumas ideias, alguns refrães e enviei para a banda, começamos a conversar e para encurtar a história, terminamos o disco. Mas foi uma longa jornada!

Música e religião
Neal Morse: Eu não fui religioso minha vida toda, só me tornei Cristão em 2001. Espero que, com esse disco em especial, as pessoas se sintam levadas e tocadas para ter uma relação com Deus. Não depende de religião, mas de escutar Deus e relacionar-se com Ele. É isso que me interessa.

A importância do álbum físico em tempos atuais
Neal Morse: Tudo isso é apenas uma coisa diferente. Fico feliz que os fãs de nossa música ainda gostem da versão física, ainda gostam de sentar e escutar o disco todo, porque nosso novo disco é realmente uma peça que tem que ser escutada de uma vez, como um filme. Então sou grato que nossos fãs ainda entendam e amem o que fazemos. Não sei dizer o que acontece com todo mundo, mas é verdade que hoje há déficit de atenção generalizado.

O mundo da música hoje
Neal Morse: Vivemos em uma era estranha porque, por um lado, é mais fácil do que nunca lançar coisas novas, dá para gravar coisas muito boas na sua casa. Ou você pode gravar um vídeo com um equipamento decente por menos de mil dólares e mostrar para o mundo todo. O problema é que tanta gente está fazendo o mesmo. Antes, as gravadoras eram escassas e milhares de pessoas estavam batendo em, digamos, doze portas; agora, há muito mais gente para milhares de portas e acho que é difícil filtrar tanta informação. Não sei como se destacar nesse mundo e estão todos tentando descobrir um meio. A música progressiva segue caminhos diferentes. Acho ótimo que no meu mundo nunca nenhuma gravadora interferiu na minha música. Nunca disseram “queremos que você faça isso”. Sempre tive total liberdade artística em toda a minha carreira e isso é muito bom!

A criação da Radiant Records
Neal Morse: Lancei minha própria gravadora nos anos 90 por uma razão muito simples: as pessoas que faziam nossos discos nos pagavam uns trocados para cada disco vendido, enquanto os fãs compravam o disco de mim por uns oito dólares. Não fazia mais sentido, então decidi me tornar meu próprio fabricante e se desenvolveu a partir daí, comecei a cuidar da distribuição, marketing e todo o mais. É muito bom, gosto de estar na direção.

A possibilidade de regravar algum trabalho antigo
Neal Morse: Não gostaria de regravar algum disco meu do passado. Acho que eles são o que são e alguns deles soam muito bem, são um pouco diferentes do que fazemos agora, mas alguns são surpreendentemente bons considerando como foram gravados. Claro que tenho ProTools na minha casa, então só entro no estúdio e começo a trabalhar, é maravilhoso. E tudo isso só é possível por causa da tecnologia.

Neil Morse ouve em casa
Neil Morse: Hoje eu estava na piscina com minha filha e escutamos Frank Sinatra, Jack Johnson e John Mayer…. Nada de progressivo. Mas toquei meu violão. Gosto muito do disco novo do pianista Dave Bainbridge, ele é da banda IONA, e escuto muito as coisas dele. Mas para ser sincero, muitas das vezes que estou dirigindo, sempre há músicas minhas que preciso escutar, como agora, por exemplo, estou relembrando o Testimony 2 para tocar no Morsefest em setembro, aqui em Nashville. Na maioria das vezes estou escutando coisas que preciso estudar ou reaprender.

A opção por viver em Nashville
Neal Morse:
Nashville é uma ótima cidade para músicos, tem de tudo, não só country. A melhor coisa de morar aqui é que é um dos centros da música, ao lado de Los Angeles e Nova Iorque. Então sempre consigo encontrar cantores, engenheiros de som, etc. Também viajo muito, então é importante estar perto de um bom aeroporto.

Um objetivo futuro
Neal Morse: Adoraria trabalhar com uma orquestra, é algo que sempre sonhei e nunca pude fazer; Nashville tem uma grande orquestra sinfônica e se Deus permitir que eu trabalhe com eles… seria demais. Também seria fantástico trabalhar com alguém como Peter Gabriel. Mas estou aberto para o que Deus quer de mim, e não penso o que quero de Deus. Acho que boas coisas me esperam no caminho.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.