Entrevista

Entrevista SINARA

Existem artistas que mesclam gêneros musicais com a mesma facilidade com que respiram. No caso da banda Sinara isso é uma verdade tão absoluta que basta olhar para o legado familiar de seus integrantes e concluir que reggae é rock, MPB é samba e música… música é simplesmente música.

Formado por Luthuli Ayodele (vocalista), nascido e criado na Favela da Rocinha e autor da maioria das letras; o pernambucano Magno Brito (baixo), que traz sua formação acadêmica em música para agregar aos arranjos a riqueza da sua regionalidade e seu conhecimento musical; e Francisco (guitarra), João (guitarra) e José Gil (bateria), o grupo carrega em seu DNA o talento e a criatividade de Gilberto Gil, grande padrinho e inspirador do grupo.

Depois de lançar um EP, Sol, em 2015, o Sinara se preparou ao lado de Pedro Baby e Sérgio Santos durante o último ano para o lançamento de Menos é Mais, seu primeiro “álbum cheio”, que apresenta uma verdadeira miscelânea de gêneros tal qual suas maiores inspirações.

E prontos para engatar seus passos mais importantes na carreira, a banda Sinara conversou com o Passagem de Som sobre tudo o que cercou seu primeiro álbum, o passado e o futuro em uma ótima entrevista!

Os caminhos até o lançamento do álbum Menos é Mais
José Gil: Nós encaramos esse disco como um amadurecimento natural. Desde que lançamos o EP Sol em 2015 nós viemos nos conhecendo melhor dentro do estúdio, amadurecendo ideias como banda e esse tempo foi essencial para um processo de conhecimento da banda também. Esse disco faz muito parte desse processo e porque fizemos ele com muita calma, tínhamos muitas músicas e foi um processo complexo para chegarmos nessas dez que compõem o disco.

O Pedro Baby e o Sérgio Santos ajudaram muito a gente nesse caminho todo e estão conosco há anos, são amigos, irmãos de vida. E conforme cada um de nós sentia melhor a presença do outro dentro do estúdio, nós também íamos ganhando unidade e transformando toda essa experiência em algo natural.

Pedro Baby e o Sérgio Santos
José Gil: Era algo que tinha que acontecer. Como eu disse antes, o Pedro e o Sérgio são nossos parceiros de trabalho e de vida. Desde 2016, depois do lançamento do EP, o Pedro já vinha visitando a gente no estúdio, tocando quando possível, havia uma reciprocidade muito grande com todos nós, de um cara que realmente vinha para somar. Era uma jornada de conhecimento que acabou resultando em uma vontade mútua de se fazer o álbum juntos.

O Sérgio Santos já tinha feito o nosso EP e acabamos somando ambos, o Sérgio já produziu muita coisa pra rádio, que você houve muito por aí, do rap, do funk e do sertanejo, o cara está em evidência e tem uma pegada atual muito atual. Já o Pedro tem aquela coisa da pegada raiz da música brasileira, trazendo suas influências nordestinas, de violão, da fase da Tropicália, de Novos Baianos… então a soma dos dois foi muito importante para chegarmos nesse resultado que é o álbum Menos é Mais.

A fusão de ritmos no palco
José Gil: Nós estamos levando esse repertório para o palco desde o início do ano e  fizemos em 2017 já 14 shows com o disco. Nós estamos muito felizes com o resultado disso tudo porque estamos conseguindo levar para o palco a essência de todo trabalho que fizemos em estúdio. Obviamente todo disco é cheio de camadas que no palco você não consegue levar, mas nós sempre buscamos ser o mais fieis possíveis àquilo que fizemos no gravação do disco.

É um desafio grande, levamos muito tempo para definir a sonoridade que levaríamos para o palco, mas rolou. Estamos conseguindo!

Identidade
José Gil: Nós mesmos como público consumimos nosso disco. E todos do Sinara sempre consumiram ainda muita coisa diferente, então para nós sempre é importante que nossa música não venha com um rótulo. Que ninguém diga de cara que isso é reggae, é rock ou é samba. Isso é muito natural par anos. Eu como filho de Gil cresci vendo meu pai percorrer por todos os gêneros da música brasileira e da música mundial. Então para nós da Sinara essa multiplicidade de gêneros. Quando começamos a fazer músicas elas já nascem assim e não ficamos nos preocupando em qual formato iremos fazer, elas saem todas genuínas porque não temos conosco a ideia de temos que ser uma banda de reggae ou de rock, tudo funciona de um jeito natural.

Na nossa música as coisas vão surgindo, seja um reggae, um rock, um samba… e nós embarcamos muito dentro disso porque temos muito claro que somos tudo isso.

A função dos grande canais para uma banda
José Gil: Esse abismo que havia entre o mainstream e o underground diminuiu e isso é nítido. Os grandes veículos ainda tem uma importância muito grande, mas existem as bandas que nascem no seu nicho underground e por uma questão de identificação acabam crescendo, assim como aquelas que graças aos grandes canais conseguem atingir um público grande. São dois movimentos diferentes que hoje acontecem paralelamente.

Existe espaço para todo mundo, acredito que a música é isso, antigamente tudo era muito mais limitado, mas hoje se pulverizou e o mercado de música está muito mais democrático que antigamente, dando espaço para quem quer entrar nele de verdade.

A importância do formato físico para o artista hoje
José Gil: Hoje para música acho muito importante que os formatos físicos se mantenham no mercado porque eles são a materialização da música, né? A música como formato de mídia não tem material e você se relaciona com a música fisicamente a partir das mídias.

Primeiro o bolachão, as fitas, o CD e assim sucessivamente. E outra coisa que é muito importante dos formatos físicos que hoje a internet ainda não conseguiu absorver é a questão da ficha técnica, de você ir atrás de quem gravou, de quem tocou, de sabe quem fez a capa, quem desenhou. Também existe toda questão da produção de um disco ou de um vinil ou de uma fita que contém ali material muito relevante, tanto gráfico quanto de informação, de letras e tudo mais, que hoje as plataformas digitais não entregam.

Acho que ainda posso acrescentar a importância do formato físico pela questão da mídia, que tem sons diferentes. O CD tem um som diferente do vinil, que tem som diferente da fita. Os reprodutores agem de forma diferente e tem gostos peculiares, há aqueles que gostam de ouvir a pipoca do vinil, tem gente que gosta de um som um pouco mais limpo já pelo CD. Vai muito do tipo de consumidor, depende do tipo de consumidor que você é. Mas o legal do formato digital é a democratização da música, você não ter altos custos pra lançar um disco, poder fazer uma coisa quase que em casa e ter o mesmo nível de distribuição que um grande artista.

Você hoje na internet alcança quem você quiser, então esse lado é muito bacana de você poder democratizar a música dessa forma. Antigamente, para você gravar, teria que ter um orçamento, estúdio, blá blá blá. Hoje já é bem diferente. Acho que Sinara se beneficia muito disso, da internet.

A música como instrumento social
José Gil: A gente acredita que isso sempre foi a preocupação. A música sempre foi usada como forma de protesto, acho que todas as artes sempre tiveram esse cunho de protesto, de levantar questões sociais e a Sinara não está fora disso.

Já no nosso primeiro trabalho viemos com canções que buscam levantar questões sobre o que acreditamos e que temos que melhorar, tanto no país quanto no mundo. Hoje essa nossa sociedade meio doente, tentamos trazer, levantar questões e mostrar nas letras essa preocupação social que temos.

Através disso acredito que as pessoas que também se preocupam com essas questões sociais e estão no meio da música queiram escutar Sinara, porque se identificam. Porque de fato Sinara traz crítica social, traz letras construtivas nesse sentido e nos preocupamos com isso.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.