Histórica, a primeira transmissão brasileira realizada via internet completa 25 anos ditando o rumo da música atual. Depois de revolucionar a música brasileira com a Tropicália, Gil redefiniu como podemos ouvir e vê-la, mostrando que interação segue sendo a chave da relação artista e público
Você consegue imaginar um mundo sem plataforma de streaming? Sem a possibilidade de interagir com o artista, compartilhar em suas redes sociais? Nós também não. E nesse ano relembramos da aventura que foi fazer isso acontecer, lá nos anos 90, quando Gilberto Gil realizou pela primeira vez uma transmissão via internet. O nome da música? Claro, “Pela Internet”, primeiro single do álbum Quanta. Fruto de uma parceria que envolveu empresas como IBM, Embratel e O Globo, a aventura pelo espaço virtual foi resultado da mente de Flora Gil, esposa de Gilberto, que procurou cada uma das empresas para fazer a aventura acontecer.
Inspirada pelo primeiro samba composto no Brasil, “Pelo Telefone”, de Donga e do jornalista Mauro de Almeida, “Pela Internet” foi composta cheia de termos que naquele momento não faziam parte do coletivo. Palavras como Gigabites, Home Page, Hot-link e Hacker eram algumas daquelas que nos anos seguintes pareciam dar forma à nossa realidade, mas que davam forma à composição de Gil.
Gravado no prédio da Embratel, o projeto envolvia uma estrutura gigantesca, já que transformar tudo isso em uma transmissão por internet não seria fácil. Além da própria estrutura do pocket show (como foi realizado, diante de uma pequena platéia), a equipe de Gil dividia espaço com centenas de metros de cabos, caixas de som e engenheiros, já que não fazíamos nem ideia do que seria o hoje tão comum wi-fi.
A mente responsável por tudo foi a de Claudio Zibenberg, gerente de mídia da IBM que, posteriormente, daria outro importante passo no formato de transmissões ao lado de Gil, agora no Carnaval da Bahia. Ao bancar as primeiras transmissões via internet, se a possibilidade de expandir o alcance de qualquer evento sem a intervenção direta da TV como veículo principal. Ainda com baixa audiência, já que o país engatinhava na popularização dos primeiros computadores, a transmissão acabou evoluindo no mesmo compasso em que a internet passou a fazer parte da vida dos brasileiros. Já a música, ela conseguiu ir ainda mais longe antes disso.
Com o sucesso do álbum Quanta, o projeto ao vivo Quanta gente veio ver nasceu também da parceria entre Gil e a IBM, que bancou o projeto (o terceiro na linha da parceria), lançado no Brasil e no exterior. O sucesso foi tamanho que em 1999 levaria o Grammy Awards como melhor disco na categoria World Music, coroando um projeto iniciado 3 anos antes.
Até hoje é difícil dizer qual teria sido a primeira transmissão por internet fora do Brasil, mas outro disco é lembrado exatamente por ter ido além do espaço em que é executado. Trata-se de Aloha Hawaii, especial televisivo de Elvis Presley que foi gravado ao vivo do Hawaii em janeiro de 1973 e exibido em por volta de 40 países via satélite. A audiência, estima-se, teve mais de 1 bilhão e meio de espectadores assistindo o evento ao mesmo tempo, o que não incluiu o Brasil, dado o fato de que na época não haviam televisores preparados para tal.
No caso de Gil, o simbolismo de Pela Internet se dá principalmente pela abertura de um novo universo, que selava de vez a relação entre música e internet. Da possibilidade da tecnologia amplificar de forma única o poder da música.
E narrar tudo isso enquanto o YouTube está aberto em nossos computadores ou alguma plataforma de streaming toca Gil ou algum artista do outro lado do mundo, torna a história ainda melhor, mostrando que ter Gil como protagonista só agiganta essa história. E que até hoje ele não cansa de nos surpreender.
