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Jack Ü – Os arautos do caos

Formado por Skrillex e Diplo, dois dos mais festejados produtores da atualidade, o projeto Jack Ü vem ao Brasil pela primeira vez como verdadeira antítese ao glamour exaltado pela cena EDM, emergindo do caos musical de seus produtores e reafirmando a condição da música eletrônica como novo som de arenas.

Para aqueles com pouco mais de 30 anos, o termo “Superstar DJs” certamente remete a uma cena formada por nomes como Chemical Brothers, Daft Punk e Fatboy Slim, que redefiniram o status da música eletrônica na segunda metade da década de 90.

Já aqueles que curtiram a virada do século com a ascensão do trance holandês, Tiesto, Paul van Dyk e Armin van Buuren foram motivo de alegria em muitas festas. Porém, houve um momento em que a música eletrônica encontrou-se no centro de tantas vertentes que foi necessário focar-se em uma única direção. Essa direção ficou conhecida como EDM (Electronic Dance Music) e passou a ser difícil imaginar algo maior que o trio sueco Swedish House Mafia, que através de Axwell, Steve Angello e Sebastian Ingrosso levou o gênero a um novo patamar, capaz de aliar o gênero às grandes produções de shows de rock.

Com a EDM capitalizada de forma avassaladora, o pop e até o próprio rock tiveram que se adaptar e caminhar ao lado de DJs em grandes eventos. Nos maiores festivais do planeta não era difícil ver tendas eletrônicas cada vez mais cheias, rivalizando até com bandas headliners do festival.

Um ponto fora da curva nasceu quando o dubstep emergiu do underground e se inseriu na contramão de uma música cada vez mais homogênea, resgatando elementos renegados pelo mainstream ao longo de duas décadas como two-step, o grime e o UK garage. Não a toa, o dubstep sempre foi visto como uma vertente típica da IDM (Intelligent Dance Music), trazendo às pistas uma atmosfera experimental e menos engessada quando se pensava em música eletrônica.

Com Skrillex no ponto central desse movimento, era chegada a hora da música eletrônica apresentar sua 4ª onda de supergrupos, o que acabou acontecendo após o encontro do produtor com californiano Diplo, formando o Jack Ü.

Assim como Skrillex, Diplo não caminhava pelo mesmo caminho da EDM contemporânea. Em seus sets, elementos de Miami Bass (que nos acostumamos a perceber no chamado beatbox e que serviu de base para toda a cena de hip hop da Califórnia), Dirty South (ritmo repleto de batidas pesadas e dançantes), pop e até mesmo o funk, paixão natural de produtor, davam o tom em sets explosivos nos clubs americanos..

Pela sonoridade de ambos, fica até mais fácil entender por que o projeto Jack Ü acabou dando tão certo mesmo antes de nascer. Dialogando musicalmente e na contramão da EDM, o estrondoso sucesso do lançamento do grupo aconteceu tendo seus nomes revelados após a divulgação do single de Take Ü There.

A presença nos grandes festivais foi caminho natural para o Jack Ü e até mesmo os convidados de suas faixas chegaram a fazer parte das apresentações. Entre os colaboradores estavam nomes como CL, Kai, Diddy, Kiesza e até o astro teen Justin Bieber.

Com álbum lançado em 2015, o duo segue levando a frente um projeto que une em sets elementos que a EDM renegou nos últimos anos. Caótico e barulhento, ver o Jack Ü ao vivo é testemunhar um momento ímpar e intrigante da música eletrônica, tão importante quanto suas gerações antecessoras de supergrupos.

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Com uma produção capaz de matar de orgulho bandas como Kiss ou Rammstein, o duo americano apresenta em suas faixas uma amálgama de gêneros musicais caótica, repleta de trap, raggamuffin, hip hop (entenda, muito hop hop!!!) e, claro, música pop, o que não o distanciou por completo da EDM. E esse é exatamente o trunfo da dupla, que pode ter sua história traçada como um paralelo entre o boom da cena breakbeat e o surgimento do Prodigy na década de 90.

Um dos headliners da edição 2016 do Lollapalooza, o Jack Ü surge no line up ao lado de nomes como Snoop Dogg, Kaskade, Bad Religion, Twenty One Pilots e muitos outros, mas o que torna ainda mais interessante a presença da dupla no evento é justamente sua capacidade em sintetizar elementos de todas as bandas citadas em um único set.

No auge da carreira, acompanhar o Jack Ü agora pode ser a chance de testemunhar um importante capítulo de um gênero musical tão mutável quanto cruel, mesmo sabendo que ambos os nomes da dupla estejam devidamente gravados na história da música eletrônica.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.