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Os 15 anos sem Celly “Rock and Roll” Campello

Ela dançou Tico-Tico no Fubá aos cinco anos numa apresentação infantil, participou de um filme de Mazzaropi e se tornou a primeira brasileira a ser reconhecida por fazer rock and roll no país. Como está o rock nacional 15 após a partida de sua primeira rainha, Celly Campello?

O que é o rock? De onde veio e para onde vai? Pensar tudo isso tendo como pano de fundo os Estados Unidos ou o Reino Unido une pontas que em pleno século XXI se tornam impossíveis de se manterem soltas. Da influência do blues dos anos 40 até o auge nas décadas de 60 e 70, todo mundo tem seu nome favorito para defender nas conversas de bar e fóruns de internet.

Mas e no Brasil? Como nasceu o rock e quem foram suas estrelas? Quem foi seu Rei? Ou melhor, quem foi a sua Rainha? Hoje, 15 anos após a partida de Celly Campello, a música nacional se revigora e novamente injeta ânimo em uma cena que carecia até poucos anos de uma artista capaz de conduzir o público jovem sem a necessidade de roubar os estereótipos masculinos tão encrustados na sociedade.

Celly não nenhum desses elementos que primariamente tomam conta de nosso imaginário quando pensamos em rock. Não escreveu letras que exaltavam a rebeldia dos jovens dos anos 50 e muito menos chocou a sociedade com escândalos envolvendo qualquer libertinagem. Muito pelo contrário, abandonou a carreira aos 20 anos ao casar com seu primeiro namorado, com quem permaneceu até os últimos dias de vida. E ainda assim Celly foi rock and roll. A eterna Rainha do Rock Brasileiro.

Tal qual os países da América do Sul, o rock nacional teve nítida influência da música inglesa e americana. Sucessos chegavam aos poucos e logo se transformavam em versões que acabaram tendo seu auge na Jovem Guarda, naquele que seria o primeiro grande movimento acerca do rock nacional em toda sua história.

Antes disso Celly, que na infância ligada à comunicação já havia dançado Tico-Tico no Fubá em uma apresentação infantil e cantado na Rádio Cacique de Taubaté aos seis anos, mergulharia no mundo da música após fazer parte do Clube do Guri, onde aprendeu piano, violão e balé durante a infância. Lá, aos 15 anos, já tinha um programa de rádio e, ao lado do parceiro de estúdio e irmão Tony, se preparou para lançar seu primeiro disco, em 1959, ano em que sua vida mudou para sempre.

Lançada em 1958 por Connie Francis e gravada um ano depois por Neil Sedaka, o hit Stupid Cupid ganhou sua versão brasileira através de Celly, que explodiu após apresentar a faixa no programa do Chacrinha, dominando rapidamente as paradas de sucesso.

Foram vários hits, entre eles Billy, Lacinhos Cor-de-Rosa e Banho de Lua, provavelmente seu ponto mais alto na carreira e também uma versão de um clássico do exterior, no caso da italiana Tintarella di luna. Música que se comunicava com o público jovem, os hits de Celly logo inspirariam nomes como Os Mutantes, que também regravaram a faixa em seu primeiro álbum, e tantos outros da Jovem Guarda, que escreveu sua história nos anos seguintes.

Já vivendo em uma geração onde Beatles e Rolling Stones avançavam gradualmente com suas músicas no país, Celly preferiu sair de cena. Mesmo aclamada como a Rainha do Rock Brasileiro, a cantora decidiu abandonar a carreira para se dedicar à família, algo que o fez até os anos 70, quando anunciou um retorno triunfante dentro do Hollywood Rock, festival pioneiro do gênero no Brasil. Vieram alguns shows e colaborações, porém, tal qual acostumamos a ver na música pop, o tempo de Celly havia passado, mas sua marca já estava enraizada na música brasileira.

Surgiram várias “Rainhas” ao longo dos anos seguintes. Rita Lee talvez seja a mais notável, herdando o posto que Celly conquistou em um período onde era impensável pensar na associação do rock com o universo feminino. E o rock se tornou pop, se tornou MPB. E perdemos as contas de quantas Rainhas a música brasileira teve nesse período.

Celly morreu em 2003, aos 61 anos. Inspiração para uma geração de cantoras cheias de atitude, segue sendo celebrada quinze anos depois por todos que sabem o tamanho da importância de uma artista que soube como poucos cativar seu público, mostrando que o rock sempre foi muito mais que um estilo musical, mas a mais vibrante manifestação artística do mundo moderno.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.