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Ozzy, por uma vida menos ordinária

Em seu novo álbum, Ordinary Man, o Príncipe das Trevas inova ao abrir a porta para parcerias da música pop, reflete sobre a vida e sofre, infelizmente, para se manter relevante para uma geração inerte ao mundo do rock.

Quando Ordinary Man foi anunciado, em meados de 2019, a vida de Ozzy Osbourne não andava na melhor forma. Acompanhado de problemas de saúde que praticamente decretaram seu afastamento definitivo dos palcos, o eterno vocalista do Black Sabbath sabia que seu primeiro disco em uma década não poderia ser mais um.

De fato não foi. Sem praticamente nada relevante desde o álbum Ozzmosis (1995), Ordinary Man desperta sentimentos antagônicos. Goste ou não das parcerias, como a realizada com o rapper Post Malone, ou da limpidez da guitarra, amor e ódio se fazem presente no disco, tirando Ozzy da zona de conforto. Mas mais que seu protagonista, o disco tamém tira seu público da letargia acumulada de anos sem interesse em novos lançamentos de um artista considerado clássico. E interesse, nesse caso, é ir além da primeira audição do novo álbum, mas transformar sua presença em algo marcante nas semanas e meses pós-lançamento. Algo para ser lembrado.

Amparado por bastiões da música pop contemporânea, Ozzy despertou algo que vai além do “Oba, disco novo! Teremos uma nova turnê para ouvir os clássicos de sempre”. E isso em tempos atuais é uma conquista, dado que boa parte do público sabe que essa turnê muito provavelmente não acontecerá.

A presença marcante de Chad Smith, baterista do Red Hot Chili Peppers, e Duff McKagan, do Guns N Roses, é certamente o maior trunfo do disco, ainda que ambos não apareçam no disco com a força de Elton John, responsável pela melhor faixa de Ozzy em pelo menos 20 anos e que dá nome ao disco.

Responsáveis pela maioria das composições, Chad e Duff tiveram o reforço de nomes que vem revolucionando a música pop, caso de Ali Tamposi, que tem faixas assinadas para artistas como One Direction, Beyoncé e o fenômeno BTS. Andrew Watt, frequentemente lembrado pelo supergrupo California Breed e que faz um “bico” com o The Roots, também é fundamental, já que sua guitarra afasta de vez o egocentrismo de Zakk Wylde de faixas que em nenhum momento deixam de lado o protagonismo de Ozzy. Louis Bell, engenheiro de som, é outro que deu um ar diferente ao disco, fruto de sua experiência ao lado de artistas como Camila Cabello e Taylor Swift.

Composto por 11 faixas, Ordinary Man acerta nas composições como há tempos não se via na carreira de Ozzy. Interpretado como um epitáfio por parte do público, graças a faixas como Today is the End ou Goodbye, o disco soa mais divertido do que o comum e choca, felizmente, com as duas faixas frutos da parceria com Post Malone. Diferente de outras épocas, traz algo de novo. Com ambas em destaque, em especial Take What You Want, que serviu de balão de ensaio ainda em 2019 no álbum do rapper, fazendo com que Ozzy fosse além da bolha onde parecia viver confortavelmente.

Primeiro single a ser lançado, ainda em 2019, Under the Graveyard já dava a ideia de um disco diferente, mais palatável para quem sempre achou que Ozzy era o demônio que comia morcegos ou então o sequelado do seriado The Osbournes. Era só rock. Rock pesado.

No dia em que foi lançado oficialmente, 21 de fevereiro, o novo álbum de Ozzy encarou de frente um novo mundo. Era o lançamento de Map of the Soul: 7, disco do BTS que dominou praticamente tudo o que se pode pensar em cifras e engajamento nas redes. Diferente da época em que um disco do Príncipe das Trevas balançaria a cultura pop com novas histórias, anúncio de shows e euforia, houve a movimentação que já se tornou comum para a música mais pesada nos últimos anos. Algumas resenhas, comentários e uma vida que segue.

Ordinary Man talvez seja o primeiro passo para mudar isso, ainda que de forma MUITO tardia. Com mais acertos do que erros, o disco conseguiu trazer o improvável para a carreira de Ozzy, tal qual a comédia-romântica de Danny Boyle lançada nos idos dos anos 90, a clássica Por uma vida menos ordinária. Com elementos tão surreais e a disposição de investir nesse caminho enquanto sua saúde permitir, o novo disco de Ozzy poderia ter sido feito há pelo menos uma década, mas antes tarde do que… mais tarde. A história já foi feita.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.