Ao vivo

Rael – SESC Pompeia (03.01.20)

Quem se acostumou a frequentar o circuito SESC já sabe, início de ano e pipocam boas atrações pelos quatro cantos da cidade. São shows que vão do rap ou forró, da MPB ao heavy metal, tudo sempre com preços acessíveis e a qualidade que o público merece.

No sempre concorrido SESC Pompeia, a agenda foi caridosa ao apresentar logo de cara o show do rapper Rael, que levou ao palco o repertório de seu último e ótimo álbum, Capim Cidreira, disco lançado em 2019 e que marca uma guinada musical e pessoal em sua carreira.

Com ingressos esgotados para as duas datas, nos dias 3 e 4, Rael subiu ao palco com jogo ganho, mas mais que isso, subiu ao palco disposto a mostrar a razão de ser um dos mais criativos nomes da surreal boa safra de rappers que vem dominando a cena nos últimos anos. Amparado por um trio de músicos, no formato baixo, bateria e guitarra, o show mostra o que poucos artistas conseguem: furar a bolha do gênero em que ascenderam.

Quem ouviu Capim Cidreira antes da apresentação de Rael já havia percebido algo diferente. Muito mais orgânico, o álbum ao vivo coloca o rapper em uma posição de frontman diferente da estrutura de um show de rap. Tem reggae, muito reggae, ragga, rock e pop, mas ainda assim segue sem perder a atmosfera de um show de rap. Rimando e fazendo valer seu antigo apelido, de Rael da Rima, o ex-integrante do grupo paulistano Pentágono, por onde gavou quatro álbuns até 2012, mostra-se o autêntico protagonista, dando uma aula de presença de palco.

Com quase 20 faixas, o show de Rael, claro, privilegiou seu último lançamento, que ganhou vida no palco em toda sua totalidade, com destaque especial para faixas como Bença Mãe, Flor de Aruanda, Especial e Sempre, forte candidata a uma das faixas mais legais de sua carreira. Esbanjando vontade, Rael no palco não perde a mensagem, mesmo diante de um show que se aproxima demais da dinâmica de um show de rock, muito disso graças ao formato apresentado, com banda.

Com metade de seu repertório voltado ao novo álbum, houve tempo de Rael passear por seus outros quatro álbuns, dando espaço – especialmente – para o hip hop que o alçou dentro da frutífera cena atual. E mostrando como álbuns como faixas de Coisas do Meu Imaginário já pavimentavam sua estrada até o estrondoso feedback de Capim Cidreira.

Em um show de muitos acertos, inserções e diálogo, Rael deu o pontapé no calendário 2020 da cidade de São Paulo como há tempos não se via. Com muita energia, mostrou que “O Hip Hop é foda”, mas não é só hip hop. Parafraseando um de seus muitos hits, a única certeza que se tem atualmente é que ao ter derrubado as paredes que cercavam o rap propriamente dito, a música brasileira venceu. E Rael é um bom exemplo disso.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.