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Resenha: Antibalas – Fu Chronicles

O nome parece de algum coletivo de rap brasileiro, mas a sonoridade passa longe disso. Formado no Brooklyn ainda no fim dos anos 90, o Antibalas poderia parecer deslocado no tempo ao emular a fórmula desenhada por Fela Kuti décadas antes, mas – tal qual foi dito antes – passa longe disso.

Fundado por Martín Perna, que tem descendência mexicana e cresceu nos Estados Unidos estudando a cultura além das fronteiras do chamado sonho americano, o multi-instrumentista coleciona, além da história com o Antibalas, colaborações que vão passam por nomes como  Sharon Jones, Scarlett Johansson, Baaba Maal, Angelique Kidjo e David Byrne. Martín é do mundo, literalmente.

Com seu projeto Antibalas, que já foi “Conjunto Antibalas” e “Antibalas Afrobeat Orchestra”, já lançou sete álbuns, sendo cinco deles pela renomadíssima Daptone, selo especializado em funk e soul que se tornou uma referência de boa música mundo afora. O último deles, Fu Chronicles, chega agora em 2020 revitalizando ainda mais o gênero e explorando novos caminhos para o afrobeat e mostrando novas referências em suas longas seis faixas.

Fu Chronicles é dançante e intenso. Provavelmente a definição perfeita de algo que é verdadeiramente contagiante. Desde o início, na ótima sequência formada por Amenawon e Lai Lai, apresenta de forma clara uma devoção ao pai do gênero, mas logo mostra que é mais que isso, explorando uma musicalidade que rompe as paredes do jazz e rapidamente se transforma em longas jams, dando espaço para sua avalanche de músicos, como que cooptados pelo som de seus próprios parceiros

Mesmo evocando as raízes africanas, a música do Antibalas soa extremamente cosmopolita, caso da sequência formada pelas modernas MTTT, Pt 1 e 2, uma viagem digna de uma big band que nasceu entre um emaranhado de prédios e não entre savanas. Como bem definiu Martín Perna em sua primeira turnê pelo Brasil, 99% de sua música é Fela Kuti, mas esse 1% possibilita o grupo ir para todos os lados, daí a autenticidade de um trabalho que enriquece ainda mais o gênero.

Entre o tribal e essa atmosfera cosmopolita, algumas faixas parecem soar totalmente fora do eixo em Fu Chronicles,caso de Fight Am Finish, talvez a mais sombria do disco e que notoriamente foi escolhida para se ro primeiro single do disco, carregando uma mensagem forte, tal qual… Fela Kuti. Essa tendência se mantém ainda na reta final do disco, com Koto, faixa que reúne elementos de música oriental e reforça o flerte com novas culturas do novo álbum.

O lado mais tradicional e óbvio do afrobeat se faz presente em Fist of Flowers, música que parece ganhar mais swing a cada audição e que coroa o ousado trabalho realizado em Fu Chronicles.

Reforçando sua capacidade de se aventurar por novos ritmos, Martín consegue mostrar que mesmo o ritmo mais tradicional é passível de evolução. É mais ou menos o que Gary Clark conseguiu com This Land em 2019. Assim como o bluesman, o mult-instrumentista não tem o compromisso de precisar soar palatável o tempo todo, conseguindo construir canções longas e que lhe dão a possibilidade de abrir espaço para todos os músicos de sua banda. Um trabalho que engrandece o passado e o agiganta ainda mais para encarar o futuro sem soar engessado.

Tracklist:
01 – Amenawon
02 – Lai Lai
03 – MTTT, Pt. 1 & 2
04 – Fight Am Finish
05 – Koto
06 – Fist of Flowers

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.