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Resenha: Pet Shop Boys – Hotspot

Em uma década MUITA coisa pode acontecer na música eletrônica. Movimentos nascem, outros morrem, alguns poucos afortunados permanecem… mas a realidade é que grande maioria desaparece. Agora pense em quatro décadas desse tipo de música… sim, é praticamente impossível manter-se relevante, ao menos na teoria. Diga isso para Chris Lowe e Neil Tennant, as forças por trás do Pet Shop Boys, e vai ver que a regra não se aplica a eles.

Primeiro álbum cheio da dupla desde Super, lançado em 2016 (nesse intervalo houve um EP e um ao vivo), Hotspot é tão, mas tão moderno que, ao invés de tentar soar como vanguarda e influência para novos grupos inspirados nos teclados e sintetizadores da dupla, surge ao lado de nomes que certamente se inspiraram no auge do Pet Shop Boys para nascer. Resumindo, Hotspot é duo inglês repaginado, adaptado a um novo contexto e fazendo o que mais sabe, música para dançar e pensar.

As pistas do 14º álbum dos ingles já estava muito bem explícitas desde 2019, quando lançou o primeiro single do disco ao lado do Years & Years, referência no indie pop contemporâneo. Dreamland já mostrava que, ao invés de ensinar, era a vez do Pet Shop Boys aprender, e como coadjuvantes de sua música, sacou os caminhos do pop contemporâneo para dar forma ao disco lançado nesse início de ano. 

Composto por 10 faixas, o disco tem uma capacidade radiofônica acima da média, algo que a própria dupla parecia ter abandonado desde a fase em que faixas de Bilingual atingiram as rádios do mundo todo sem nenhuma cerimônia. De lá para cá, uma música mais cerebral parecia ter distanciado o Pet Shop Boys da esfera pop, algo que não acontece em Hotspot.

Faixas como You Are the One e Happy People são bons exemplos de como é possível soar relevante sem abandonar suas raízes, mas ajustando parte de seu discurso para abraçar novamente as pistas, talvez não as das festas do passado com ecos dos anos 80, mas aquelas que hoje abraçam o rock sem nenhuma nostalgia. Tudo isso à medida que dizer algo mais profundo, como na belíssima Hoping for a Miracle.

Claro, música não é uma fórmula exata e existem momentos em que Hotspot parece repetir uma tendência apresentada no início do disco, às vezes soando até mesmo cansativo, mas é interessante ver como a voz de  Neil Tennant ainda se faz relevante, marcante e divertida na maior parte do tempo. Bom exemplo é I Don’t Wanna, outro bom destaque do miolo do álbum.

Ainda que não tenha nenhuma colaboração, é impossível não sentir a influência do electropop moderno em algumas faixas do duo, caso de Monkey Business, que poderia muito bem ser um cover dos tantos grupos influenciados pelo Pet Shop Boys. É a vez do criador ser devoto de muitas de suas criaturas.

Sem tentar reinventar a roda, a dupla inglesa faz bonita em mais um álbum de sua extensa carreira. E não é só uma extensa carreira, mas um protagonismo que fez a música eletrônica ser o que é desde os anos 80. Trabalhando novamente com Stuart Price, que soube como poucos atravessar os últimos 30 anos, o Pet Shop Boys de hoje é moderno. Não esquece o passado, mas mostra que ele precisa, ao menos em parte do tempo, ficar guardado no armário para vestir uma nova roupa.

Tracklist:

01 – Will-O-The-Wisp
02 – You Are the One
03 – Happy People
04 – Dreamland
05 – Hoping for a Miracle
06 – I Don’t Wanna
07 – Monkey Business
08 – Only the Dark
09 – Burning the Heather
10 – Wedding in Berlin

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.