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Robertinho do Recife sem fronteiras

O Metalmania está de volta! Liderado por Robertinho do Recife, um dos maiores nomes da guitarra nacional, o projeto fundado há mais de três décadas retorna para ter, finalmente, o reconhecimento de um trabalho que abriu portas para músicos brasileiros e que consolida mais um capítulo da história de um artista que, literalmente, rompeu todas as barreiras musicais.

Quando alguns dos maiores canais de comunicação anunciam suas votações para “Melhores do Ano”, dificilmente se vê o nome de Robertinho de Recife. Mas se alguns dos seus grandes ídolos pudessem votar, aí certamente teríamos o guitarrista pernambucano figurando no topo de diversas listas.

Hoje a todo vapor e curtindo seus 61 anos, Robertinho do Recife vê sua história se cruzar com praticamente todo a cena de entretenimento no Brasil. E não é somente por sua impressionante habilidade com a guitarra. Produtor, arranjador e guitarrista, trabalhou com nomes que vão de Xuxa a Rogério Skylab. Ou seja, sem você pensar muito enquanto lia essa matéria, mentalmente revisitou hits de alguma faixa clássica de um ícone do rock ou da música pop que teve o talento de Robertinho do Recife envolvido.

Considerado um prodígio desde a adolescência, Robertinho do Recife teve seu primeiro contato com a música através da música sacra. Sempre tocando em alto nível, logo passou a integrar a banda de nomes expressivos da Jovem Guarda como Jerry Adriani e se tornar um músico requisitado em vários ambientes, o que o aproximou do blues e do jazz enquanto se apresentava como freelancer em cruzeiros marítimos.

Dono de um talento natural, o contato com músicos das mais variadas vertentes não tardou a acontecer e isso acabou se tornando o grande trunfo da carreira de sua carreira Com facilidade (e felicidade) rara em desenvolver arranjos, teve a oportunidade de acompanhar nomes da MPB como Jane Duboc, Cauby Peixoto e com o imprevisível caldeirão de ideias de Hermeto Pascoal.

Entre idas e vindas, lançou em 1977 seu primeiro álbum, Jardim da Infância. Essa rotina de lançamentos se manteria até 1983. Nesse período colecionou lançamentos como Robertinho no Passo (1978), Loucos Swings Tropicais (1979), Satisfação (1981), Robertinho de Recife e Emilinha (1982) e Ah, Robertinho do Mundo (1983). Para se ter ideia do potencial do guitarrista, o tracklist do último citado incluía uma versão de Bachianas brasileiras nº 5, de Villa Lobos.

Cidadão do mundo e de todas as vertentes musicais, Robertinho do Recife deu uma guinada na carreira com o lançamento do projeto Metalmania, em 1985, no disco que é considerado o pioneiro do hard rock no país. A obra reforçaria ainda mais a parceria com Fausto Nilo, com quem já havia trabalhado desde O Jardim da Infância, quase dez anos antes.

Metalmania não foi só um disco pioneiro em estilo. Marcado por uma sonoridade mais agressiva que outrora, se tornou responsável por colocar o guitarrista fora do eixo da MPB, com quem havia trabalhado nos anos anteriores. Em seu novo projeto se aproximou de forma definitiva da música clássica e da virtuose de nomes como Eddie Van Halen (sua grande inspiração) e Randy Rhoads, ex-guitarrista de Ozzy Osbourne. Na esteira do lançamento abriria o show do Quiet Riot e do Deep Purple no Brasil e se mostraria como um dos mais inventivos guitarristas brasileiros da história. Não a toa, os reflexos de Metalmania foram sentidos nos anos seguintes.

Depois de ter recusado um convite para tocar na lendária banda americana Chicago e aceitar o convite de Fagner, Robertinho do Recife passou a ser referência para grandes nomes da música mundial. Teve a chance de dividir estúdios e palcos com nada menos como Stanley Clarke, Peter Tosh, Andy Summers (The Police), Deep Purple, Quiet Riot, Steve Cropper, o Miami Sound Machine de Gloria Estefan, John Lee Hooker, Bonnie Raitt, Taj Mahal e Dr. John, entre muitos outros…

Para quem hoje ultrapassa a barreira de 30 anos e não se lembra, o guitarrista pernambucano também foi responsável pela fundação da banda Yahoo, que alcançou em meados de 1988 sucesso nacional com Anjo, versão de Angel, clássico do Aerosmith.

Posteriormente o talento de Robertinho do Recife o levaria para um nível ainda mais técnico, quando lançou Rapsódia Rock, disco que o levou a uma turnê onde se apresentava vestido de Mozart e interpretando faixas como Bolero, de Ravel, e Noturno nº 10, de Chopin, além de composições próprias. Foi seu último trabalho antes de se dedicar inteiramente aos estúdios de gravação.

Com o know-how de um verdadeiro guitar hero, Robertinho do Recife não era só um especialista das seis cordas. Eficiente em todas as vertentes por onde transitou, produziu nomes como Xuxa, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho e o parceiro de longa data, Raimundo Fagner.

No álbum Nação nordestina, lançado por Zé Ramalho em 2001, tocou guitarra, mas só retornou de forma efetiva três anos depois na banda Na Mata Café, onde interpretava sucessos da década de 80. Viu a reverência crescer e novos artistas lhe procurarem, caso de Rogério Skylab, com quem produziu seu disco homônimo em 1999. Também viu o consagrado bloco de carnaval Galo da Madrugada lhe homenagear e nos últimos anos um infarto interromper sua carreira.

Porém a pausa fez bem a Robertinho do Recife. Depois de retornar e finalmente adentrar as redes sociais, foi convencido de que deveria trazer de volta o projeto Metalmania; e assim o fez.

Da formação clássica sobrou somente Lucky Leminski. E para injetar o sangue novo no trabalho recrutou o jovem Rob Khalil (baixo), e as garotas Isa Nielsen (guitarra) e Jully Lee (bateria) para lançar o disco Back for More, em 2014.

Não demorou para o grupo estaria inserido novamente no circuito, realizando a abertura dos shows do Judas Priest e Accept no Rio de Janeiro, além de apresentações pontuais em diversos festivais pelo país.

Em 2015, respaldado pela paixão pelo rock e a música clássica, foi convidado pelos americanos do Manowar a participar do show da banda no lendário festival Monsters of Rock, em São Paulo.  E se havia alguma forma dessa geração atual não conhecer Robertinho do Recife, ela se encerrava ali no palco do lendário festival.

Em turnê atualmente, Robertinho do Recife segue divulgando Back for More pelo país enquanto curte esse momento da carreira. Conforme disse em entrevista ao Globo.com, “sou puramente metal, meu braço está cheio de pinos (risos)”.

Um dos nomes mais importantes da música brasileira nos mais diversos ritmos e vertentes, Robertinho do Recife é peça fundamental da história da música no país. Ou será que a música brasileira é que é peça fundamental para alguém com um talento como o seu?   

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.