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Tommy e Gina no topo do mundo

Faixa que completou três décadas em 2016, Livin´ on a Prayer levou o Bon Jovi ao seu patamar mais alto um ano depois. Clássico absoluto da banda americana, soube envelhecer e até hoje é celebrada tanto quanto qualquer clássico das décadas de 60 e 70.

Se enquanto você lê essa introdução os acordes iniciais de Livin´ in a Prayer ecoam na sua cabeça junto ao talkbox de Richie Sambora, não estranhe. Estamos falando de um dos maiores clássicos da história do rock, que completou três décadas em 2016 e atingiu o auge um ano depois, seguindo como ponto mais alto da carreira do Bon Jovi, atração do Rock in Rio no próximo mês de setembro.

Composta em 1986 por Desmond Child, responsável por uma avalanche de sucessos como I Was Made for Lovin’ You, e Heaven’s on Fire, do KISS, Angel e Dude (Looks Like a Lady), do Aerosmith e tantos outros que por si só resultariam em uma matéria no Passagem de Som, Livin´ on a Prayer talvez seja a canção mais pessoal de um compositor que teve como mote o início de seu casamento nos anos 70 para revolucionar a carreira da banda de Jon Bon Jovi.

Lançada no álbum Slippery When Wet, o terceiro do grupo, Livin´ On a Prayer não fazia parte dos planos iniciais da banda, que inicialmente descartou a canção por ter achado sua gravação fraca. Convencido por Richie Sambora sobre o potencial da faixa, Jon topou regravá-la com uma estrutura diferenciada, o que incluiu uma das mais marcantes aparições do baixista Hugh McDonald, que quase uma década depois substituiria efetivamente Alec John Such, membro original do banda.

Utilizada como segundo single durante a promoção de Slippery When Wet, o clássico maior do Bon Jovi tinha ao seu lado faixas que se tornariam emblemáticas na carreira da banda. Para se ter uma ideia do que foi dito, Never Say Goodbye, You Give Love a Bad Name e Wanted Dead or Alive foram alguns dos pontos altos de um disco que consolidou Jon e sua turma como um dos maiores nomes do rock na década de 80.

Lançada como single no Halloween de 1986 ao lado de Wild in the Streets, Livin´ On A Prayer estourou pra valer na virada do ano e deu ao grupo um 1987 para não ser mais esquecido.

Contando a história de um casal, Tommy e Gina, a letra de Desmond Child foi inspirada na própria biografia do compositor, que passou altos apertos financeiros no início da carreira. Na história, Gina ajuda na parte financeira da casa trabalhando em uma lanchonete de beira de estrada enquanto Tommy, um cara que trabalha nas docas da cidade, é obrigado a penhorar seu violão para conseguir ajudar nas contas.

A expressão “vivendo por uma prece” ao qual o título da música e seu refrão foram imortalizados, pode ser comparado ao que o brasileiro costumou a chamar de “só por Deus” ou “se Deus quiser” em momentos de dificuldade. Não são poucas as vezes em que versos de Livin´ On a Prayer apresenta versos motivacionais como:

We’ve got to hold on to what we’ve got  ‘
Cause it doesn’t make a difference 
If we make it or not 
We’ve got each other and that’s a lot

Nós temos que nos segurar no que nós temos 
Porque não faz diferença 
Se conseguiremos ou não 
Nós temos um ao outro e isto é muita coisa 

Na época os Estados Unidos viviam a era Reagan e a economia passa por um período de transição muito conturbado, portanto não é exagero dizer que parte da identificação do público com a banda derivou do momento de crise. Não a toa foi nessa época que Bruce Springsteen se tornou o “Herói Americano” com composições que se aproximaram do cotidiano do público.

Os números de Livin´ On a Prayer impressionam. Depois de consolidar o primeiro lugar para o Bon Jovi durante semanas nos charts americanos, alcançou sucesso global e foi considerado o maior hit do mundo em 1987, quando a banda alcançou sucesso em uma escala poucas vezes vista na indústria pop.

A faixa clássica de Slippery When Wet também monopolizou a programação da MTV americana, que se tornou referência nos anos 80. Gravado no Grand Olympic Auditorium, em Los Angeles, na California, contou com a direção de Wayne Isham, que até hoje é considerado um dos grandes “papas” da linguagem músico-televisiva e dirigiu artistas como Motley Crue e Britney Spears.

As referências a Livin´ On a Prayer também nunca mais pararam. É possível citar uma quantidade considerável de filmes que fizeram uso da música em suas trilhas sonoras, caso de Rock Star e Charlie’s Angels: Full Throttle (aqui traduzido como As Panteras), a série Everybody Hates Chris foi outra e contou com uma performance épica do protagonista e sua família durante sua última cena, conforme pode ser visto abaixo:

O programa Survivor: Worlds Apart, uma espécie de No Limite americano, também utilizou a faixa, assim como o jogo Guitar Hero, que virou febre na última década.

O casal citado na faixa também nunca abandonou a carreira de Bon Jovi, que no álbum Crush, lançado na virada do século trouxe a faixa It’s My Life, que trazia o seguinte verso:

This is for the ones who stood their ground 
For Tommy and Gina who never backed down
Esta é para aqueles que conquistaram seu espaço
Para Tommy e Gina que nunca desistiram

É verdade que hoje o Bon Jovi não é o mesmo. Sem Richie Sambora e agora com Phil X, a banda parece sem a força de antes, mas sempre capaz de lotar arenas e emplacar ao menos um ou dois hits de forma razoável a cada lançamento. O grande charme de Livin´ On a Prayer segue sendo a performance dos fãs mundo afora e isso sempre fará o Bon Jovi (e seu maior clássico) respirarem sem sentir o efeito do tempo.

Um bom exemplo é essa performance de um torcedor do Boston Celtics, time da NBA, durante um intervalo do jogo, quando a faixa começou a tocar no som ambiente da casa. E três décadas depois ainda é possível perguntar: Você consegue ficar parado ouvindo Livin´ On a Prayer?

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.