Entrevista

Entrevista: menores atos

Formado por formado por Cyro Sampaio (guitarra/voz), Ricardo Mello (bateria) e Celso Lehnemann (baixo), o menores atos (assim, com letra minúscula) só aparenta ser menor em algo quando escrevemos seu nome. Consolidado e com uma base de fãs que respira a mesma sintonia da banda, o trio impressiona pela intensidade, seja de suas músicas como pela reação do público, que não vê a hora de conferir seu som ao vivo novamente.

Com seu primeiro single, Breu, parte de um EP que terá 5 faixas e culminará em uma turnê de divulgação, o menores atos vem estreitando essa distância enquanto segue evoluindo com sua música, que nesse momento soa sombria e densa, mas caminha rumo à luz.

Para falar sobre esse processo, Cyro Sampaio encontrou tempo para falar com o Passagem de Som. Esbanjando maturidade, o menores atos mostra que, assim como em toda sua carreira, escolher os passos certos é a base de uma relação cada vez mais forte entre o trio e seus fãs.

A faixa Breu e a decisão de lançar um EP

Cyro Sampaio: A gente acha uma música muito forte e, de fato, tivemos bastante pra trabalhar nela até chegarmos nesse formato com orquestração e tal. É uma música que já estava basicamente pronta antes mesmo da pandemia.

A decisão por fracionar o lançamento vem alinhada com as práticas atuais, nessa nova realidade em que encarar cada música como um trabalho individual surte muito mais efeito, mesmo que depois tudo vá se juntar em um álbum ou EP, e assim até ganhar mais sentido e força.

A produção de Breu durante a pandemia

Cyro Sampaio: São muitas camadas, cordas, sopros, piano, synths, metais… Foi uma forma bem intensa de começar esse novo trabalho, que traz 5 músicas que marcam bem esse momento desde que viemos pra São Paulo até agora, no meio dessa pandemia que acabou mudando não só a forma de divulgar mas até mesmo de enxergar todas as partes do processo.

A influência do país atual no processo de composição

Cyro Sampaio: Com certeza essas questões influenciam diretamente as minhas motivações pra compor. Tanto que esse EP diz muito de questões internas, mas tudo sem perder essa nossa veia romântica na forma de se expressar. De certa forma, sinto que a gente consegue se comunicar de um jeito mais poético, mas se for prestar atenção tem muita coisa que diz mais do que parece e acho legal que seja assim.

Ser artista em um país que cerceia a arte

Cyro Sampaio: Eu vejo mais como uma oportunidade do que como um peso. De forma alguma quero que o público tenha dúvidas quanto ao meu/nosso posicionamento político, sobre as pautas que defendemos e nossas preocupações com o mundo. Acho que isso é tão importante quanto a própria obra, ainda mais em um momento tão conturbado quanto o que a gente vive nos últimos anos.

Mídias digitais

Cyro Sampaio: A gente tenta se adaptar, mas sem abrir mão do que a gente também gosta, inclusive como público. Estamos lançando as músicas uma a uma, como singles, mas elas se juntam no EP. Acho que o caminho é por ai, sempre tentando incorporar elementos mais modernos, mas mantendo uma essência do que consideramos importante.

O Menores Atos e a identidade do rock nacional hoje

Cyro Sampaio: Eu acho muito difícil se enxergar dessa forma, mas eu vejo que tem muitas bandas de fato produzindo materiais muito interessantes, não só no rock, como no rap, principalmente. Acho que momentos tenebrosos também motivam a produção artística e o Brasil sempre foi muito relevante musicalmente, principalmente  usando a música como resistência.

Fazemos parte de um selo chamado Flecha Discos, que tem produzido ótimos trabalhos, como Zander, Putz (da qual tb faço parte) e Molho Negro.

A intensidade de um trio

Cyro Sampaio:  Não diria que é um desafio levar nossa música para o palco porque é algo que a gente faz naturalmente desde o início. Não houve um esforço pra soar dessa forma. Mas acho que o segredo de nossa banda está na união desses 3 caras tocando juntos, muito delay é um público sempre fiel cantando junto e preenchendo ainda mais o som.

O interesse por música autoral no pós-pandemia

Cyro Sampaio: Ainda não consigo dizer se percebo uma mudança em relação a isso, por enquanto. Mas acredito que esse interesse sempre vá existir e aos poucos vamos chegar num nível maior de normalidade dentro de todas essas mudanças e adaptações.

Um EP que pode ser chamado de recomeço

Cyro Sampaio: Para a gente representa justamente isso. Nós vamos fazer um caminho que vai exatamente do Breu até a Luz (Lúmen). Diria que é um olhar otimista em relação a tudo que está por vir, mas de um jeito que a gente não esqueça o quanto foi difícil esse período.

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Anderson Oliveira

Editor da Revista Som (www.revistasom.com.br) e do Passagem de Som, é formado em Publicidade e Propaganda com pós-graduação em Direção de Arte. Atualmente se aventura pela computação gráfica enquanto luta para completar sua coleção de Frank Zappa.